A instalação de reforços de Israel nas colinas de Golã é uma mensagem ao ditador sírio, Bashar al-Assad, à medida que suas forças se aproximam da fronteira com Israel, afirmou um analista israelense.
“Agora que seu exército está vindo em direção ao sul, não os envie à zona desmilitarizada estabelecida no acordo [de cessar-fogo] de 1974. Israel verá isso como uma violação séria”, foi como o analista de defesa Roni Daniel, do noticiário de TV Hadashot, definiu a aparente mensagem de Israel.
O exército israelense enviou tanques e canhões de artilharia para a fronteira síria na manhã de domingo (1) em meio a uma ofensiva das forças de Assad e de militares russos contra os redutos rebeldes no sudoeste da Síria. Logo em seguida, a Força de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) anunciou seus movimentos à imprensa.
“Esta foi uma mensagem para Assad”, disse Daniel. “Quando a IDF implanta e anuncia reforços, há um só endereço: Assad.”
Este movimento não foi uma surpresa. Desde a retomada da campanha de Damasco, que teve início no último mês contra cidades controladas por rebeldes na província de Daraa, complementada por apoio aéreo dos russos e com a assistência em terra de milícias apoiadas pelo Irã, cerca de 160.000 cidadãos sírios fugiram de suas casas e viajaram para as fronteiras com Israel e Jordânia, buscando refúgio.
Centenas de sírios em fuga se estabeleceram em acampamentos próximos à fronteira de Israel, dentro da zona desmilitarizada estabelecida após a Guerra do Yom Kippur em 1973, aparentemente na esperança que Israel comece uma ação para garantir o acordo de separação e evitar que forças sírias entrem na área.
De acordo com Daniel, Israel não está se limitando a enviar sua mensagem indiretamente por meio de manobras militares: há relatos de que o ministro da Defesa, Avigdor Liberman, contatou seu equivalente russo, Sergei Shoigu, para pedir que este passe a mensagem explicitamente a Assad.
Segundo afirmação da IDF, os reforços de Israel foram enviados para aumentar a capacidade da 210ª Divisão da IDF, a Bashan, que defende as colinas de Golã. Uma declaração do exército explicou: “Isso foi feito como parte das preparações e prontidão da IDF em vista dos eventos ocorrendo no setor sírio das colinas de Golã próximos à fronteira”.
O exército se comprometeu a oferecer uma “reação determinada” a qualquer fogo vindo da Síria – intencional ou acidental – que atinja o território de Israel.
Fumaça sobe das áreas controladas pelos rebeldes na cidade de Daraa durante ataques aéreos das forças do regime sírio, em 30 de junho de 2018. (AFP/Mohamad Abazeed)
“A IDF considera de grande importância manter o acordo de armistício entre Israel e Síria de 1974”, afirma uma declaração do exército, e acrescenta: “A IDF vai continuar a manter seu princípio de não envolvimento naquilo que acontece na Síria, mantendo ao mesmo tempo uma política de mostrar uma reação determinada às violações da soberania de Israel e ameaças a seus cidadãos”.
Tanto Israel como a Jordânia declararam que não aceitarão refugiados, mas têm providenciado ajuda humanitária a eles. Na semana passada, a IDF anunciou que entregou várias toneladas de alimentos, roupas e remédios no sul da Síria em vista da situação que se deteriora nos acampamentos de refugiados montados rapidamente perto da fronteira.
Na sexta-feira (29), Israel também trouxe seis sírios feridos, quatro deles crianças que perderam seus pais em ataques sírios e russos, para tratamento médico em hospitais israelenses. “Israel tem fornecido ajuda humanitária por anos e continuará a fazê-lo agora em vista da necessidade”, afirmou o exército.
Na manhã de domingo (1), o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu reafirmou que Israel oferecerá assistência, mas não permitirá que refugiados entrem em Israel. “Continuaremos a defender nossas fronteiras. Vamos estender nossa ajuda humanitária dentro de nossas habilidades. Nós não vamos permitir a entrada em nosso território e vamos exigir que o Acordo de Separação de Forças, de 1974, com o exército sírio seja mantido rigorosamente”, disse na reunião semanal com seus ministros.
O primeiro-ministro acrescentou que ele, o ministro da Defesa e o chefe do Estado-maior estão em contato constante com os Estados Unidos e a Rússia – os dois maiores poderes na questão síria – a cerca dos combates no sudoeste da Síria.
Desde 19 de junho, o regime de Damasco, apoiado pela Rússia, tem realizado uma campanha de bombardeios mortais no sul da Síria à medida que avança para retomar a área estratégica próxima dos setores israelense e jordaniano das colinas de Golã.
No sábado, forças do governo controlavam mais da metade de Daraa, um aumento a partir dos 30 por cento controlados no início da operação, afirmou o Observatório Sírio de Direito Humanos.
Oito cidades na província retornaram ao controle do regime, devido a acordos intermediados pela Rússia, afirmou o Observatório. Isso ocorreu “após conversas entre generais russos, assim como líderes locais e os rebeldes remanescentes”, disse o líder do Observatório, Rami Abdel Rahman.
Estes assim chamados acordos de “reconciliação”, para que estas cidades se rendessem, são as últimas de uma longa sucessão de acordos por todo o país que têm resultado na retomada de áreas controladas pela oposição após ataques aéreos e terrestres devastadores.
Sírios fogem de áreas controladas por rebeldes na cidade de Daraa durante ataques aéreos do regime Sírio, em 30 de junho de 2018. (AFP/Mohamad Abazeed)
A retomada de toda a província de Daraa seria uma vitória simbólica para o regime, já que esta é vista como o berço do levante anti-Assad de sete anos atrás, que cresceu até tornar-se uma guerra civil.
Forças do regime bombardearam outras partes da província de Daraa no sábado (30), com ataques aéreos matando pelo menos 15 civis, de acordo com o Observatório. Ataques aéreos não identificados mataram 10 civis, incluindo cinco crianças na cidade de Al-Sahwa, que é controlada pelos rebeldes, disse o Observatório, que tem sua sede na Inglaterra.
O recente aumento das hostilidades acontece apesar do fato de que Daraa e a vizinha Quneitra, controlada por rebeldes, estarem incluídas em uma área de “diminuição de hostilidades” a partir de um acordo entre Rússia, Estados Unidos e Jordânia no ano passado.
O principal grupo de oposição da Síria, a Comissão Síria de Negociação (SNC, na sigla em inglês), implorou à comunidade internacional para que ela se manifeste contra esta violência: “Clamamos à comunidade internacional que condene esta quebra brutal da área de diminuição de hostilidades [...] e a tomar todas as medidas possíveis para parar este ataque ao nosso povo”, disse a porta voz da comissão, Yahya al-Aridi, em uma declaração.
No total, 115 civis foram mortos nos bombardeios do regime na província desde 19 de junho. No mesmo período, 96 combatentes pró-regime e pelo menos 59 rebeldes perderam suas vidas.
Os refugiados fugindo de áreas sob ataque incluem 20 000 que partiram para áreas próximas do posto da fronteira jordaniana de Nasib, uma área que já detém mais de 650.000 refugiados sírios registrados. Alguns afirmam que o número real é mais próximo de 1,3 milhão. Milhares têm fugido para a fronteira israelense nas colinas de Golã.
Amã, capital da Jordânia, tem dito que não pode abrir suas fronteiras para mais sírios que fogem do conflito que já tem sete anos, mas no sábado (30) anunciou que enviou ajuda para os desalojados do outro lado da fronteira.
Mais de 350.000 pessoas morreram na Síria desde que a guerra começou em 2011 com a brutal repressão de protestos contrários ao governo. —
Times of Israel
Fonte: https://www.chamada.com.br