Após apoio do dono da RecordTV, o bispo Edir Macedo, a Jair Bolsonaro, a emissora passou a evitar reportagens negativas ao candidato do PSL e ampliar o espaço dado a ele na programação.
Funcionários da equipe de jornalismo da emissora estão desconfortáveis com o cerceamento de abordagens críticas ao presidenciável, que é líder na pesquisa de intenção de voto.
A direção de jornalismo da RecordTV vetou a produção de uma reportagem sobre o mestre de capoeira Romualdo Rosário da Costa, 63, que foi morto a facadas em uma madrugada no início de outubro após uma discussão política em Salvador.
Conhecido como Moa do Katendê, o capoeirista foi esfaqueado após discutir com um apoiador de Bolsonaro sobre a eleição presidencial. A matéria sobre o assassinato estava prevista para ir ao ar no dia 8, mas os editores do jornal receberam a ordem de não exibi-la.
A matéria não foi vetada na redação do portal R7, cuja direção de jornalismo é a mesma da RecordTV. No site, há determinação para privilegiar Bolsonaro.
Jornalistas da empresa disseram que há mal-estar pelo direcionamento político no site e que alguns deles estão se recusando a assinar os textos que consideram ter viés partidário.
Procurada pela Folha de São Paulo, a Record TV não se pronunciou sobre o assunto.
A emissora não apoia Bolsonaro oficialmente, mas o bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus e dono da empresa, declarou voto no candidato do PSL em setembro.
Macedo se posiciona em eleições presidenciais desde 1989. No primeiro pleito depois da redemocratização, fez campanha contra Lula. Isso se repetiu em 1994 e 1998, na disputa entre o candidato do PT com Fernando Henrique Cardoso.
Desde 2002, porém, o bispo da Universal aderiu ao petismo. Apoiou Lula na primeira vitória do ex-presidente. A adesão se repetiu no pleito de 2006 e foi transferida para Dilma Rousseff quatro anos depois.
Uma semana depois que o bispo fez seu apoio público nas redes sociais, Bolsonaro concedeu entrevista ao Jornal da Record no mesmo dia e horário em que foi realizado debate com presidenciáveis, no primeiro turno.
O candidato se ausentou do debate porque se recuperava de duas cirurgias após ter sido esfaqueado durante ato público em Juiz de Fora (MG).
A entrevista foi motivo de representações de adversários de Bolsonaro no Tribunal Superior Eleitoral, que consideraram a exibição como “tratamento privilegiado” a um candidato, o que é proibido pela lei.
O Ministério Público Eleitoral, porém, fez posicionamento favorável à emissora e ao candidato, pois avaliou que a reportagem atendia ao interesse jornalístico, uma vez que dava informações sobre uma figura política que havia sofrido um atentado contra sua vida.
No dia seguinte ao da votação do primeiro turno, o Jornal da Record deu destaque a uma sequência de frases de Ciro Gomes (PDT) críticas a Fernando Haddad, em reportagem sobre um provável apoio do candidato ao petista. Bolsonaro, por sua vez, foi preservado de abordagens críticas.
Na semana passada, a chefe de reportagem do Jornal da Record, Luciana Barcellos, pediu demissão. A Folha apurou junto à equipe do jornal que um motivo foi a tensão causada pelas determinações da direção para preservar o candidato do PSL.
Neste domingo (21), o programa Domingo Espetacular, exibido pela emissora, mostrou reportagem sobre as manifestações de rua em apoio a Bolsonaro e a Haddad. Às manifestações pró-Bolsonaro, foram dedicados 1 minuto e 40 segundos. Às de Haddad, 20 segundos.
Depois, o programa jornalístico ainda exibiu uma reportagem sobre a situação médica de Bolsonaro, e ela foi recomendada pelo próprio candidato, em sua página oficial no Facebook.
Fonte: Folha de São Paulo
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