É o livro mais lido, traduzido, produzido, distribuído e
pesquisado de todos os tempos. E mesmo assim ainda tem sempre algo a se
descobrir. A Bíblia, que significa "coleção de livros", é formada por
66 ou 73 volumes (na versão adotada pela Igreja Católica). Divididos em Velho e
Novo Testamento, datados de antes e depois de Cristo, respectivamente, os
textos foram escritos em hebraico, aramaico e grego.
Nenhuma outra obra descreve o passado, fala sobre o presente
e revela o futuro como ela. Apesar de seus primeiros escritos serem de 4 mil
anos atrás, a Bíblia é mais atual do que nunca. Talvez isso explique seu êxito
entre leitores de todas as idades, classes sociais e gêneros, como lembra Erní
Seibert, secretário de Comunicação, Ação Social e Arrecadação da Sociedade
Bíblica do Brasil (SBB), tida atualmente como a maior publicadora de Bíblias do
mundo. "Apesar de ser muita antiga, a Bíblia trata de temas que mexem com
todas as pessoas e aborda questões essenciais, como de onde eu vim, para onde
vou, sem falar nas suas histórias, que fascinam gerações há décadas",
opina.
Erní acrescenta que, como a escritura sagrada tem os mais
diversos autores e de vários ofícios, isso a torna mais próxima da realidade de
todos. “Médico, pastor, pescador, rei. Não dá para precisar quantos e quem
exatamente escreveu a Bíblia, mas o leque é extenso e diverso”, pontua.
Já para Antonio Geraldo Cantarela, professor do programa de
pós-graduação em ciências da religião da PUC Minas e assessor do Serviço de
Animação Bíblica da Editora Paulinas, o sucesso da Bíblia pode ser associado à
marcante presença do judaísmo e do cristianismo no mundo ocidental. Segundo o
especialista, essas duas tradições religiosas sempre guardaram, difundiram e
protegeram seus escritos sagrados - "algumas vezes até com zelo
excessivo".
"Trata-se, de qualquer modo, de uma obra intimamente
ligada à história e à identidade dessas duas religiões. A sua leitura continua
servindo de orientação de vida para seus adeptos. Quem é religioso busca nesse
livro a palavra de Deus. Mas o interesse pela Bíblia não se limita ao âmbito da
religião. Ela pertence ao Ocidente. É referência da cultura ocidental",
conta. Ele cita costumes corriqueiros como, por exemplo, chamar o anel de
casamento de aliança, que tem no texto a sua raiz. Cantarela afirma que há
ainda outro aspecto a considerar: a Bíblia é cheia de textos literalmente muito
bonitos e bem construídos: narrativas míticas, sagas, lendas, contos, parábolas
e poemas.
De uns anos para cá, as editoras começaram a publicar também
bíblias voltadas aos mais diversos públicos. Bíblia para o homem, para a
mulher, infantil, para colorir, para a galera, e até a Bíblia GPS, que
apresenta recursos que permitem ao leitor navegar e se localizar durante a
leitura, fazendo a interligação entre diferentes passagens bíblicas. O teólogo
Laudo dos Santos, responsável pelo departamento comercial da Esperança, uma das
editoras que publicam alguns desses títulos, diz que a ideia de investir nesse
filão é justamente pelo fato de a nossa sociedade ser plural. Para ele, o
leitor final surge basicamente a partir das reais necessidades de cada um.
Em alguns casos, de acordo com o teólogo, o próprio
público-alvo demonstra o desejo por uma obra a ele direcionado. Em outros, as
editoras buscam identificar quem são e do que esses grupos precisam.
"Homens, mulheres, jovens, crianças, idosos e adolescentes que atuam em
distintas profissões participam de diferentes associações, têm gostos
diferentes, vivem de formas diferentes. Uns gostam de estudos, outros preferem
a visualização de dados estatísticos, mapas e tabelas. Alguns querem ter um
comentário para entender melhor o texto, enquanto outros precisam de várias
análises para fundamentar suas mensagens, pesquisas, trabalhos e estudos. É
principalmente por esse motivo que, com frequência, são lançadas novas edições
da Bíblia direcionadas a públicos específicos", resume.
Já Erní Seibert, da SBB - entidade que produz um exemplar da
Bíblia a cada três segundos - revela que a criação das bíblias especializadas é
uma maneira até de estimular o gosto pela leitura, já que o livro sagrado tem
aproximadamente mil páginas. "Imagina para uma criança ou um jovem ler um
calhamaço assim. Ninguém anima. Quando surgiu, a Bíblia não foi escrita para
alguém específico, mas para todos. O que a gente faz é adaptá-la para cada
público. No caso da mulher, por exemplo, focamos em questões que têm a ver com
a realidade delas e sempre com algum comentário mostrando uma visão feminina
sobre determinada passagem", comenta.
Fonte: Diário de Pernambuco
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