“Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Entretanto se o viver na carne traz fruto para o meu trabalho, já não sei o que hei de escolher. Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor.” (Fil. 1.21-23)
A experiência da morte é uma realidade para todos. Os
cristãos, mesmo depois de terem sido justificados pela graça de Deus, quando
receberam o Senhor Jesus pela fé, e assim terem garantida a sua salvação, não
são poupados da morte física, consequência do pecado original. Os filhos de
Deus por adoção (os crentes) certamente passam pela morte, muito embora os que
estiverem vivos quando o Senhor Jesus voltar fisicamente a Terra não morrerão,
mas serão transformados (1 Cor. 15.51-52). Apenas dois homens na história
humana foram poupados da morte, tendo sido transformados em corpos glorificados
e elevados (arrebatados) ao céu; e isto aconteceu antes mesmo da primeira vinda
de Cristo. Esses foram Enoque (Gen. 5.24) e o profeta Elias (2 Rs. 2.11).
Podemos entendê-los como exceções à regra, casos especiais.
Nós, os demais, assim como os filhos de Deus que já se foram
desde o começo da história, inclusive os primeiros apóstolos e os mártires,
iremos com certeza morrer e ressuscitar, “em carne e osso” no dia do retorno do
nosso Senhor. Mas, o que acontece com nossa alma, depois da morte, no período
entre a morte até a ressurreição?
Quando o cristão morre, sua alma fica num estado de
sonolência ou vai direto para Deus e fica consciente?
A morte é a interrupção temporária da vida no corpo e a
separação da alma do corpo. Quando o cristão morre, embora o corpo permaneça na
terra e seja sepultado, no momento da morte, a alma (ou espírito) vai
imediatamente para a presença de Deus, consciente e cheia de alegria. Quando o
apóstolo Paulo pensava em sua morte, ele afirmou: “Preferindo deixar o
corpo, e habitar com o Senhor” (2 Co 5.8). Deixar o corpo é estar com
o Senhor Jesus. Ele também diz que o seu desejo é “partir e estar com
Cristo” (Fp. 1.23). Jesus também disse ao ladrão que estava morrendo
ao lado dele na cruz: “Hoje estarás comigo no paraíso” (Lc
23.46). “Estarás comigo” indica que, desde aquele dia, aquele bandido que se
arrependeu e reconheceu que Jesus é o Filho de Deus está com Jesus, consciente,
gozando de sua presença. Outro texto bíblico que indica fortemente o estado de
consciência depois da morte e antes da ressurreição é Apocalipse 6.9-11. Ali
está uma referência clara a mártires que foram assassinados e que JÁ DESFRUTAM
da bênção de estar na presença gloriosa de Deus, conscientes, antes da
ressurreição de seus corpos.
A Bíblia não ensina a doutrina do “sono da alma”. O fato de
que a alma dos cristãos vai imediatamente para a presença de Deus também
significa que a doutrina do sono da alma é um erro. Essa doutrina ensina que
quando os cristãos morrem, eles entram em um estado de existência inconsciente
e que voltarão à consciência somente quando Cristo voltar e ressuscitá-los para
a vida eterna. Essa doutrina tem sido ensinada eventualmente por alguns na
história da igreja, inclusive alguns anabatistas da época da Reforma e alguns
seguidores de Edward Irving na Inglaterra no século XIX. Um dos primeiros
escritos de João Calvino foi um folheto contra tal doutrina, a qual nunca teve
ampla aceitação na igreja. Hoje em dia, os Adventistas do Sétimo Dia são
praticamente os únicos a adotarem esta doutrina. O certo é que quando Cristo ou
Paulo dizia que um morto “dormia” (I Tess.) estava usando uma metáfora, uma
figura de linguagem, referindo-se ao corpo morto, que irá ressuscitar e,
portanto, quando morto, fica por algum tempo como se estivesse dormindo.
A Bíblia também não ensina a existência de um purgatório. O
fato de que a alma do cristão vai imediatamente para a presença de Deus nos
leva indubitavelmente a concluir que não existe algo como o purgatório. Na
doutrina católica romana, o purgatório é o lugar onde a alma do cristão é
purificada do pecado até que esteja pronta para ser aceita no céu. De acordo
com esse pensamento, os sofrimentos do purgatório são dados a Deus como
substitutos do castigo pelos pecados que os cristãos mereciam ter recebido, e
não receberam. Não consta em nenhum dos evangelhos bíblicos que Jesus tenha
ensinado que no mundo espiritual há um lugar em que as almas dos cristãos ficam
sendo punidas, para depois irem para a presença de Deus. Ao contrário, quando
contou a estória conhecida como parábola do Rico e Lázaro (Lucas 16.19-31),
Jesus afirma que ambos morreram e que Lázaro foi imediatamente para “O seio de
Abraão” (símbolo da presença de Deus). Lázaro estava consciente, gozando da
presença de Deus e não passou por nenhum “purgatório”. Não recebeu punição
alguma depois de morrer e antes de ir para a presença de Deus. Não precisava
mais de orações por parte dos vivos, porque já estava com Deus. Paulo, o
apóstolo, em nenhuma de suas cartas constantes no Novo Testamento, ensina ou
sequer menciona tal purgatório. Mesmo reconhecendo-se “o maior dos pecadores”
(1 Tim. 1.15) sabia e escreveu, por inspiração divina que, logo ao partir desta
vida, estaria com Cristo (Fil. 1.23); não passaria por nenhum “purgatório”.
Este ensino do purgatório entra em contradição com o
ensinamento de Jesus na parábola do Rico e Lázaro e com a certeza de Paulo de
que partir é “Estar com Cristo”. Aliás, a doutrina do purgatório não é ensinada
em nenhum livro bíblico. Ela encontra algum fundamento no livro de II Macabeus
(12.44-45), que ensina que se deve orar pelos mortos. E os dois livros de
Macabeus, que constam no Antigo Testamento católico, fazem parte dos livros que
Jerônimo (o tradutor da Vulgata Latina — a versão da Bíblia em Latim aprovada
pela Igreja Católica-Romana) chamava de apócrifos, e que constavam em algumas
coleções de livros do Antigo Testamento traduzidos do hebraico para o grego,
mas não constam na Bíblia Judaica (o Antigo Testamento original) em hebraico.
Os judeus nunca reconheceram este livro como Escritura (escrito inspirado por
Deus). Os chamados “pais da igreja” (líderes da igreja dos séculos II ao IV) se
dividiam quanto à inspiração divina dos livros que contavam na versão grega do
Antigo Testamento e não constavam no Antigo Testamento original (hebraico). Os
dois maiores eruditos em Bíblia dentre os “pais da igreja” — Jerônimo e
Orígenes — eram claramente contrários ao “acréscimo grego” do Antigo
Testamento. O bispo católico mais influente no Concílio de Niceia — Atanásio —
relacionou os livros canônicos do Antigo Testamento (em 367) e não incluiu
nenhum dos livros considerados apócrifos por Jerônimo e que constam hoje no
Antigo Testamento católico. A polêmica aumentou quando Lutero (no século XVI)
decidiu pelo cânon hebraico e fez uma tradução da Bíblia para a língua alemã
que trazia os apócrifos do Antigo Testamento numa parte separada dos demais
livros, e explicava que aqueles livros, embora tivessem valor histórico, não
tinham autoridade de escritura sagrada. No entanto, tais livros foram incorporados
ao Velho Testamento da Igreja Católica Romana no Concílio de Trento (1546),
ocorrido alguns anos depois da Reforma Religiosa (1517), com o principal
intuito de combatê-la. Já estudamos e sabemos porque esses livros chamados hoje
de “apócrifos” pelos evangélicos e de “deuterocanônicos” pelos católicos não
fazem parte da revelação de Deus e não podem servir para estabelecer nenhuma
doutrina cristã.
Se não existe o “sono da alma”, para onde vai imediatamente
a alma de um incrédulo, depois que morre?
A Bíblia nunca nos incentiva a pensar que haverá segunda
chance de aceitar a Cristo depois da morte. Na verdade, o quadro é exatamente o
oposto. A parábola do rico e de Lázaro nos ensina que o rico foi imediatamente
para o Hades (Sheol em Hebraico), para o lugar de tormentos, e não dá
esperanças de que seja possível passar de lá para o paraíso depois da morte,
apesar de ter o rico clamado no Hades: “Pai Abraão, tem misericórdia de
mim! E manda a Lázaro que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a
língua, porque estou atormentado nesta chama”. Abraão, entretanto, respondeu:
“Há um grande abismo entre nós e vós, de forma que os que desejam passar do
nosso lado para o seu, ou do seu lado para o nosso, não conseguem.” (Lc.
16.26b NVI). Lamentavelmente, a alma dos descrentes vai imediatamente para o
lugar de tormentos e lá aguardará até o juízo final, quando será lançada no
fogo eterno (inferno). Não há segunda chance. A chance de receber o Senhor
Jesus é aqui na terra. E você, já recebeu Jesus como seu único Senhor e
Salvador?
Marcio S. da Rocha. http://www.doutrinasessenciais.com
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