Na região de Tohoku, norte do Japão, há muitos exemplos de pessoas que anteriormente não tinham mostrado interesse Evangelho, mas se tornaram receptivas após a experiência da catástrofe de 2011. Essa abertura surgiu, mesmo sem uma grande campanha evangelística ou um programa estratégico de atração da igreja. Em vez disso, as pessoas foram atraídas ao cristianismo, simplesmente enquanto viram Cristo na vida de voluntários cristãos que, sem exigir nada em troca, continuavam chegando às áreas de desastre para fornecer ajuda e apoio.
Voluntários cristãos incansáveis
Imediatamente após o desastre de 2011, um grande número de voluntários locais e estrangeiros chegaram ao litoral de Tohoku, que havia sido devastado pelo tsunami que acompanhou o terremoto. No entanto, alguns meses depois - quando os centros de evacuação começaram a fechar, a distribuição de água e alimentos tornou-se desnecessária, e o trabalho de remoção de lama do tsunami das casas em grande parte já havia terminado - a maioria dos voluntários e organizações de apoio pararam de chegar ao local; Mas os voluntários cristãos continuaram a se dirigir para a região.
Eles trabalharam através de igrejas locais e continuaram a apoiar as pessoas afetadas pelo desastre, mesmo depois que elas já haviam saído dos centros de evacuação para moradias temporárias. Os cristãos estavam conscientes de que esse sofrimento não se tratava apenas de necessidades físicas, como roupas, alimentos e habitação - eles também estavam lidando com necessidades espirituais, enquanto lutavam com a perda de entes queridos.
Muitos dos sobreviventes e famílias das vítimas se questionavam 'por que tal catástrofe havia caído' sobre eles. Então pastores e voluntários cristãos se encontraram envolvidos no "ministério de presença", pois eles incansavelmente ouviram as vítimas repetirem suas histórias e desabafos de tristeza, ansiedade e arrependimento. Ainda hoje, seis anos após o terremoto e o tsunami, muitos pastores, homens e mulheres, continuam a visitar idosos na região de Tohoku, que estão solitários e ainda vivendo em habitações temporárias. Os pastores se assentam com estas pessoas, tomam um chá, conversam e oferecem apoio espiritual.
Cristo na vida dos cristãos
Agora que a maioria dos voluntários se foi, as pessoas nas áreas de desastre expressam frequentemente a preocupação de que o resto do mundo possa esquecê-las, mesmo que o trabalho de restauração esteja muito longe da conclusão.
Enquanto os cristãos continuam a visitar as pessoas afetadas pelo desastre, eles acabaram sendo chamados pela população de 'Kirisuto-san' ou 'Sr. / Sra. Cristo', com muito respeito e apreciação. Isso é algo semelhante a o que aconteceu no primeiro século, após a morte e ressurreição de Jesus. As pessoas usaram o termo cristão em desprezo pelos seguidores de Cristo, mas depois o utilizaram o termo com respeito e carinho. Então agora, 20 séculos mais tarde, no norte do Japão, as pessoas continuam a verem Cristo na vida dos cristãos.
A maioria dos cristãos que se dedicaram ao trabalho de ajuda em Tohoku nunca pediu nada em troca, como por exemplo, exigir que as vítimas ouçam uma pregação do Evangelho. Comovidos pela total devastação de Tohoku e as trágicas circunstâncias das pessoas, os voluntários cristãos não pensaram em se engajar em um "proselitismo desleal".
Respostas à presença
Os cidadãos locais receberam com muita alegria os cristãos que simplesmente se apresentavam como ajudantes da igreja e continuavam atendendo às necessidades das pessoas. Os moradores da habitação temporária abraçaram esses cristãos como amigos. Ao longo do tempo, eles acabaram pedindo a esses voluntários que falassem sobre a Bíblia. Quando eles perguntaram aos cristãos por que eles repetidamente viajaram de tão longe para ajudar aquela população afetada pela catástrofe, isto soou como um convite aberto para que o Evangelho fosse então pregado.
Na cidade de Iwaki, prefeitura de Fukushima, a igreja do pastor Eiji Sumiyoshi tornou-se um centro de distribuição de materiais de socorro que vieram de igrejas em toda a região após o desastre de 2011. Embora houvesse explosões na usina de energia nuclear a 80 quilômetros ao norte da igreja e muitos moradores tivessem fugido da cidade, Sumiyoshi ficou. Ele sabia das pessoas ao redor da igreja que ficavam e não podia simplesmente abandoná-las.
Juntamente com outras atividades, ele ajudou a atender às necessidades da comunidade ao servir refeições no centro de evacuação. Sua presença contínua surpreendeu totalmente os moradores locais. Desde que Sumiyoshi tinha sido designado para a igreja de Iwaki - vindo Tóquio - apenas quatro anos antes do desastre, os moradores locais acreditavam que ele estaria entre os primeiros a fugir. Quando souberam que Sumiyoshi escolheu ficar por causa deles, eles responderam com gratidão e respeito.
Várias pessoas voluntariamente manifestaram o desejo de começar a participar dos cultos na sua igreja e ouvi-lo pregar aos domingos. Alguns se tornaram regulares, se converteram e, após algum tempo, foram batizados.
Como qualquer comunidade local no Japão, as pessoas na prefeitura de Fukushima normalmente percebem os recém-chegados como estranhos durante, pelo menos, os primeiros anos. No entanto, o Pastor Sumiyoshi ganhou a confiança dos seus vizinhos.
"Desde o momento em que cheguei na igreja de Iwaki até o desastre atingir a área, eu nunca tinha percebido uma abertura para falar com meus vizinhos", comentou Sumiyoshi.
Além do terremoto e tsunami, incêndios também ocorreram nas usinas te Fukushima e agravaram a situação. (Foto: Geografia Visual)
Respostas dos pescadores
Outro pastor repetidamente foi ajudar em uma vila de pescadores ao longo do litoral, onde o tsunami causou uma devastação significativa. Um dia, um pescador veio ao pastor e disse: "Eu carrego o deus do dragão nos meus ombros, mas em cima da minha cabeça está Jesus".
O deus dragão é uma divindade local a quem os pescadores tradicionalmente adoram para obter segurança marítima e uma bons resultados na pesca. A comunidade de pescadores é tão bem unida sobre esta crença que aqueles que negarem o deus dragão podem ser totalmente excluídos socialmente. Este é provavelmente o motivo pelo qual o pescador não ousou professar que abandonaria o deus dragão, apesar de ter reconhecido Jesus como seu mestre. Ele declarou sua fé da melhor forma possível na época, dizendo que ele tinha Jesus acima do outro deus. Foi assim que o pastor interpretou a declaração do pescador.
Porém chegou o dia em que o pescador entendeu que não precisava mais do dente do dragão nos ombros. Ele se comprometeu unicamente com Jesus. O pastor, com oração, esperou para ver isso acontecer. Um pescador local, até então ligado à prática e costumes religiosos tradicionais se entregar a Jesus, na opinião do pastor, é um avanço sem precedentes.
Em um caso diferente, outro pastor também tem ministrado ajuda a uma vila de pescadores. Alguns pescadores passaram a acreditar em Jesus. No entanto, o pastor não tem intenção de exortá-los a participarem do culto de domingo em sua igreja, que está localizada no interior. Os pescadores não seguem a semana do calendário. Eles vão pescar quando o tempo estiver bom. Eles descansam quando a água não está receptiva.
Então, quando o mar não está bom para a pesca, o pastor convida a aldeia de pescadores para ouvir uma pregação do Evangelho, não na igreja, mas na casa de um deles.
Quando a notícia passa sobre a chegada do pastor se espalha, um a um, os pescadores vão chegando para o culto doméstico. O encontro não segue um estilo conservador ocidental. Para a maioria desses pescadores, ler livros não faz parte do estilo de vida deles. O pastor, portanto, compartilha histórias da Bíblia, usando um livro ilustrado que ele criou, justamente para falar sobre a vida de Jesus.
Lições aprendidas
Antes do desastre de 2011, os evangelistas pioneiros tentaram plantar igrejas nas aldeias de pescadores ao longo do litoral. O cristianismo que apresentaram foi recebido como uma "invasão ocidental", uma religião completamente irrelevante para a população local. Para seguir a Jesus, é preciso abandonar os ídolos e assistir a um culto de igreja todos os domingos. Essa abordagem conservadora do evangelismo nunca produziu frutos reais. Os cristãos no Japão, protestantes e católicos somados, representam menos de 1% da população. Dominada por fortes tradições religiosas, a área do litoral em Tohoku tem um número particularmente pequeno de cristãos e igrejas em relação à população.
No entanto, desde que o desastre de 2011 aconteceu nas comunidades rurais mais conservadoras do Japão. Esses fenômenos não são diferentes dos avanços notáveis do Evangelho que emergiram nas fortalezas do islamismo e do hinduísmo em todo o mundo.
Mudança de paradigma
Em Tohoku, a 'Missão Miyagi' (MMN) foi criada para usar as lições que foram obtidas através do trabalho de de missionários após o terremoto de 2011. Ao longo do tempo, o pastor Yukikazu Otomo, diretor da MMN, passou a acreditar que começar com as igrejas domésticas é a chave para fortalecer o cristianismo na região.
Otomo está convencido do valor de uma mudança de paradigma: sair dos prédios das igrejas para a comunidade local e começar as igrejas domésticas nas casas dos crentes, em vez de seguir o modelo tradicional de reunir pessoas em um templo.
O sexto Congresso do Japão sobre Evangelismo (JCE6) foi realizado em setembro de 2016. Um dos 15 projetos da JCE6 abordou como as igrejas poderiam fazer uso das lições aprendidas através da experiência do grande terremoto do Leste do Japão.
Alguns pastores que participaram do workshop do projeto lamentaram que a Igreja em grande parte não tivesse se interessado pela dor das comunidades e pelas pessoas dentro delas. Através do seu envolvimento em atividades de apoio à área de desastres, os pastores perceberam que o escopo da pastoral não deve ser confinado nos limites da Igreja, mas se estende às pessoas na sociedade em geral.
A catástrofe de 2011 provocou esse tipo de consciência, e as igrejas em todo o Japão - independentemente de terem tido uma tal experiência - devem reconsiderar como se envolver em missão.
FONTE: GUIAME, COM INFORMAÇÕES DO EVANGELICAL FOCUS