Conforme Seth Frantzman, o novo acordo é uma tentativa de enfraquecer os Acordos de Abraão.
FONTE: GUIAME, COM INFORMAÇÕES DE JERUSALÉM POST
Autoridades do Irã e Arábia Saudita durante a cerimônia para assinatura do acordo, em 11 de março de 2023. (Foto: Captura de tela/YouTube Al Jazeera English)
O novo acordo entre o Irã e a Arábia Saudita, no início de março, está sendo apontado por especialistas como um “golpe para EUA e Israel”, bem como para os aliados ocidentais.
A notícia foi dada no momento em que o Irã acelera seu programa nuclear após dois anos de tentativas fracassadas dos EUA de reviver um acordo de 2015 que visava impedir Teerã de produzir uma bomba nuclear.
De acordo com o PhD Seth Frantzman, analista em assuntos do Oriente Médio e correspondente sênior do Jerusalem Post: “A mídia iraniana, com o apoio do regime e do IRGC (Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica), está falando sobre esse acordo de forma a retratá-lo como algum tipo de jogo de xadrez do mundo real”.
“O conceito de xadrez tridimensional é aquele em que algo é excessivamente complicado e não é jogado em uma paisagem linear ou bidimensional. O regime do Irã não quer passar a mensagem de que o acordo com a Arábia Saudita foi simplesmente por necessidade e pragmatismo”, explicou.
Seth esclarece que o Irã não quer que o mundo pense que agora ele é pró-saudita. “Em vez disso, quer transmitir a mensagem de que está fazendo mais do que apenas normalizar os laços com os sauditas, fingindo que o fez para minar os EUA e Israel”, disse ainda.
Tentativa de prejudicar os “Acordos de Abraão”
Conforme o analista: “O novo acordo saudita-iraniano é parte de um processo maior pelo qual Teerã e seus aliados da ‘resistência’ na região estão revertendo os anos de sucesso israelense que surgiram por meio dos Acordos de Abraão”.
“O Irã estava muito preocupado com esse ‘acordo de paz’ e desconfiava dos laços de Israel com o Bahrein e os Emirados Árabes Unidos e possíveis laços com a Arábia Saudita”, ele disse.
“A mídia iraniana, muitas vezes, tentou minar os Estados do Golfo que estavam trabalhando com o Estado judeu. O Irã também mobilizou grupos como os Houthis para ameaçar a Arábia Saudita e os Emirados Árabes. Os Houthis no Iêmen também são antiamericanos e anti-Israel”, mencionou.
“A mídia pró-regime do Irã publicou vários artigos esta semana descrevendo o acordo Irã-Arábia Saudita como um golpe para os EUA na região. O relatório recente diz que este é o começo do declínio da influência americana na região”, continuou.
“Essa narrativa é interessante porque, embora a mídia da República Islâmica diga que o acordo é importante e muda sete anos de tensões entre Irã e Arábia Saudita, as reivindicações também retratam isso como parte do processo de retirada dos EUA do Afeganistão e também dizem que os EUA falharam na Síria e na Ucrânia”, resumiu.
Irã e suas “mensagens subliminares”
“Por que o regime do Irã acha que também deve retratar o acordo como um revés para Israel? O Irã está espalhando essa mensagem por causa desse jogo de ‘xadrez 3-D’, onde quer fingir que fez uma coisa ‘assinar um acordo com Riad’, para conseguir outra coisa ‘a erosão da influência israelense no Golfo’.
“O acordo saudita-iraniano relatado em outras partes da região, como a Turquia, é visto como pragmático e incluirá potencial comércio e investimento. Este é um acordo ‘construtivo’, conforme um artigo do jornal turco Anadolu.
“A mensagem do Irã é diferente. Ele quer alegar que o acordo está realmente relacionado aos EUA e Israel. Teerã afirma ‘resistir’ a eles há décadas. Isso faz parte de sua propaganda geral na região. Mobiliza o Hezbollah, as milícias na Síria e no Iraque e os Houthis no Iêmen sob a bandeira da luta contra Israel e os EUA”, destacou o especialista.
Oposição aos EUA
“Mas esse ‘eixo de resistência’ é em grande parte uma história de propaganda. O Irã usa alegações de oposição a essas duas potências ocidentais como uma forma de colocar o pé na porta em lugares como Líbano, Síria e Iraque”, apontou.
“Em seguida, explora as condições locais para dominar a economia e a política, esvaziar o Estado e lucrar com o declínio desses países”, explicou.
“Embora coloque uma bandeira de “oposição aos EUA”, no geral, todos que observaram o Líbano na última década e meia devem notar que a ‘resistência’ que levou o Líbano à falência, mas não se opôs aos EUA ou a Israel mais do que costumava ser. Isso mostra que as mensagens do Irã são amplamente usadas para adoçar a realidade”, resumiu.
Sobre os Acordos de Abraão
No dia 15 de setembro de 2020, Israel, Bahrein e Emirados Unidos Árabes assinaram um acordo de paz no Oriente Médio, que ficou conhecido como os “Acordos de Abraão”.
O nome do patriarca Abraão no acordo, conforme explicaram os envolvidos, é uma homenagem às três religiões abraâmicas enraizadas no que hoje é Israel e nações vizinhas.
O evento que estabeleceu as relações diplomáticas entre os três países de maioria muçulmana no golfo Pérsico foi presidido pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca.
A assinatura do acordo de paz entre os três países, até então inimigos, foi considerada como uma grande mudança no curso da história, depois de décadas de divisão e conflito.
“Graças à coragem dos líderes presentes, damos um grande passo em direção a um futuro no qual pessoas de todas as religiões e origens possam viver juntas em paz e prosperidade”, declarou Trump na ocasião.
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