Investigação de crimes contra a humanidade é uma das motivações da visita
Fonte: Portas Abertas
O promotor Karim Khan conversou apenas com oficiais do
governo (foto: World Watch Monitor)
O promotor da Corte Internacional de Crimes
(ICC, da sigla em inglês), Karim Khan, fez a primeira visita à Nigeria
para discutir os próximos passos na investigação de crimes contra a humanidade
e crimes de guerra. Evidências desses delitos foram
coletadas desde 2010 e mostram ações do grupo extremista
islâmico Boko Haram e outros, além da própria Força de
Segurança Nigeriana (NSF, da sigla em inglês) no Norte do
país. A visita é bem vista por alguns, mas
envolve controvérsias. Como a Nigéria é signatária do Estatuto de Roma,
que fundou a ICC, essa intervenção demorou mais de oito anos para
acontecer, custando muitas vidas.
Em 2009, o Boko
Haram começou os ataques recorrentes no país. Primeiro nas
delegacias e acampamentos do exército no estado de Borno. Depois, o
grupo organizou novas linhas de ataque quando sequestrou
275 meninas na escola fundamental em Chibok em abril de 2014. A
hashtag #BringOurGirlsBack se espalhou pelo mundo e até
mesmo a então primeira-dama do Estado Unidos, Michelle
Obama, a publicou no Twitter.
Apesar das promessas de que resgataria todas
as meninas na campanha eleitoral de 2015, o presidente Buhari não
deteve o Boko Haram e também não conseguiu levar o
líder deles, Abubakar Shekau, à justiça. Muitos
acreditam que em
19 de maio do ano passado, Shekau explodiu
a si mesmo com um colete suicida para evitar a captura pelo
grupo rival, o Estado Islâmico da Província da África Ocidental (ISWAP). A
morte de Shekau piorou a insegurança no país. O grupo se
separou e formou alianças com outros extremistas, como Ansaru, alguns
ligados à Al-Qaeda no Magreb Islâmico.
Recorde de mortes e sequestros
A Corte deve ser um recurso de última instância para
intervir em crimes contra a humanidade e genocídios, por isso o promotor afirma
que concedeu esse tempo para que o governo nigeriano tentasse resolver suas
demandas por conta própria. No entanto, pelo menos 38 pedidos de investigação
de crimes, dez crimes com prova e a negligência do governo nesse período
poderiam ter adiantado a visita do promotor.
Juntos, Boko Haram e ISWAP, mataram mais de duas mil pessoas em 2021; e em
2020, o triplo desse número. Além disso, mais de quatro mil mulheres e meninas
foram raptadas pelo Boko Haram apenas no Nordeste da Nigéria.
Em uma breve visita ao palácio do governo em abril deste ano, oficiais
nigerianos afirmaram não poder informar o número de nigerianos mortos por causa
das eleições do próximo ano. “Pessoas de dentro do governo acreditam que a
prioridade é a imagem pública, não a transparência e prestação de contas.”
A Associação Cristã da Nigéria (CAN, da sigla em inglês) disse que apesar
das tentativas de contato com o promotor Karim para tratar a causa dos cristãos
perseguidos, eles não foram ouvidos e ficaram sabendo da visita do ministro
pela grande mídia. Não foram notificados ou convidados para conversar com o
promotor.
Karim se encontrou apenas com membros do governo nigeriano, ou seja, está
ouvindo apenas um lado da história, como afirmou a imprensa do país. A
Associação Cristã da Nigéria se incomoda, pois nenhum dos últimos governos
protegeu os 25 mil cristãos que perderam suas vidas por causa da violência
religiosa no país. O promotor não conversou com nenhuma das vítimas ou seus
representantes.
Na lista dos crimes investigados, apenas um se refere à “perseguição motivada
por gênero e crenças” que é o caso dos raptos e abusos sexuais, como a situação
vivida por Leah
Sharibu, as meninas de Chibok e outras.
A CAN também afirma que os cristãos do Noroeste e Centro da Nigéria são alvos
recorrentes dos extremistas islâmicos e por isso pede uma investigação e ação
específica para essa questão. A Corte Internacional considera esses crimes
menos urgentes e que a motivação não é a fé das pessoas. Ao que parece, o novo
promotor seguirá o passo dos antecessores e não levará a sério os cristãos
perseguidos.
Em 2022, o tema do DIP será “A igreja sob ataque”, intercedendo em especial
pela Nigéria e Oeste Africano. Inscreva sua igreja e participe. Ao se cadastrar
como organizador do DIP, você terá acesso aos materiais para realizar o evento.
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no dia 12 de junho
de 2022.
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