Em seu relato, ela conta detalhes sobre a realidade da prisão norte-coreana, como tem sentido o cuidado de Deus sobre sua vida e como sua fé a tem ajudado a sobreviver, apesar de todas as dificuldades.
“Todas as manhãs às 8h, eles chamam ‘42’. Quando me levanto, não tenho permissão para olhar para os guardas. Tenho que me levantar, colocar minhas mãos atrás das costas e segui-los até a sala de interrogatório. Posso ver as sombras dos guardas, mas tenho o cuidado de nunca parecer que estou olhando para eles”, contou ela.
“Mesmo que a mesma coisa aconteça todos os dias, a cada dia, ainda estou com muito medo. Cada vez que eles chamam por ‘42’, me espancam e me chutam. Dói mais quando eles atingem meus ouvidos. Meus ouvidos zumbem por horas, às vezes por dias”, acrescentou. “Mas por agora, pelo menos estou viva”.
O interrogatório que nunca acaba
A prisioneira contou que os interrogatórios são diários e parecem intermináveis, como se ela não conseguisse mais perceber a diferença entre um e outro.
“Todos os dias, eles fazem as mesmas perguntas: ‘Por que você estava na China?’; ‘Quem você conheceu?’; ‘Você foi à igreja?’; ‘Você tinha uma Bíblia?’; ‘Você conheceu algum sul-coreano?’. ‘Você é cristã?’”, contou.
Ela relatou que a situação precária da prisão e de sua cela caracterizam as condições em que nem mesmo um animal conseguiria viver.
“Minha cela fica quente durante o dia e fria à noite. No inverno ou no verão, a temperatura pode ser insuportável. É tão pequena que mal consigo deitar”, disse.
“Mas eu não tenho permissão para deitar muito, de qualquer maneira. Tenho que ficar de joelhos, com os punhos fechados. Eu nem mesmo tenho permissão para abri-los. O lugar não é adequado para nenhum humano, mas para os guardas, não sou humana. Eu sou menos que um animal. Estou trancada nesta gaiola, a porta pesada e fechaduras atrás de mim, ecoam na luz fraca que nunca fica mais brilhante neste lugar”, explicou.
Na solitária por Jesus
A prisioneira contou que está em confinamento solitário, porque as autoridades suspeitam que ela realmente seja cristã e desconfiam disso por causa de suas negações na sala de interrogatório.
“Eu sou uma cristã? Sim. Mas eu tenho que fingir. Se eu admitir que fui ajudada por cristãos chineses, serei morta, rápida oulentamente”, destacou.
Ela contou que apesar de saber que há outros prisioneiros naquele campo de reeducação, não tem permissão para fazer contato com eles.
“Tudo que posso fazer é orar. Orar e cantar em meu coração. Nunca em voz alta, apenas no meu coração. Eu canto uma música que escrevi na minha cabeça”, disse ela.
A letra da música diz:
Meu coração anseia por meu Pai nesta prisão
Embora o caminho para a verdade seja íngreme e estreito
Um futuro brilhante será revelado quando eu continuar
Sem fé, a calamidade atacará nesta estrada
Permita-me ir em direção à fortaleza
Embora possa haver muito sofrimento e complicações
Como posso seguir os passos do meu Deus?
Muitos prisioneiros da Coreia do Norte acabam não resistindo às condições em que são mantidos e às sequentes seções de tortura. (Foto: Portas Abertas / EUA)
Com lágrimas, meu coração anseia por meu Pai nesta prisão
Pai, por favor aceite esta filha pecadora
Por favor, proteja-me em Sua fortaleza na montanha e sob Seu escudo
Leve-me sob suas asas de paz
A voz do pai que vem do céu
Guia-me para suas bênçãos diariamente
Sobrevivendo
Após passar por um julgamento no tribunal norte-coreano, a prisioneira 42 foi condenada a quatro anos em um “campo de reeducação”, onde apesar de
todas as dificuldades, ainda sente a presença de Deus.
“Deus tem estado comigo todos os dias, todas as horas, todos os minutos e todos os segundos. Ontem foi anunciado que seria libertada. Cumpri apenas dois anos. A primeira coisa que farei quando sair, será encontrar meu marido e meus filhos. Meus filhos estão muito maiores agora. Não nos vemos há anos”, contou ela.
A prisioneira expressou sua gratidão a Deus por todo o cuidado com sua vida durante este tempo.
“Deus cuidou de mim. Ele me impediu de desistir. Acontece que eu não era apenas uma torneira secando. Jesus me deu Água Viva, para me manter funcionando quando parecia que eu iria falhar. Ele me impediu de acabar com minha própria vida, Ele me ajudou a orar e clamar a Ele”, disse ela.
“Eu oro e acredito que Ele também cuida de meus filhos a cada segundo de cada minuto de cada hora de cada dia. Preciso contar a eles sobre esse Deus amoroso”, acrescentou.
*Esta história é baseada nos relatos da vida real de vários cristãos norte-coreanos. Alguns detalhes foram ligeiramente alterados ou mesclados para proteger a identidade específica de qualquer cristão individualmente.