Apesar dos dados oficiais não indicarem um crescimento expressivo do número de igrejas, imigrantes têm impulsionado um aumento que não faz parte das estatísticas.
FONTE: GUIAME, COM INFORMAÇÕES DA BBC NEWS
Igreja Sola Japan é uma das missões brasileiras que se dedica à evangelização de imigrantes e dekasseguis. (Foto: Facebook)
Com apenas 1,1% de cristãos, o Japão é um extenso campo missionário a ser explorado. É nesta nação que imigrantes brasileiros e dekasseguis (descendentes de japoneses que migram para trabalhar temporariamente no país) buscam alcançar pessoas com o Evangelho.
Este é o caso da paulista Megume Uehara, de 28 anos, que divide sua vida como missionária e operária em uma fábrica em Hamamatsu, na província de Shizuoka, a cidade com a maior concentração de imigrantes brasileiros no Japão.
Megume, que faz parte da igreja Sola Japan, começou a sair de Hamamatsu para evangelizar cidades vizinhas. Sua primeira missão foi em Kikugawa (Shizuoka), em 2016.
“Hamamatsu já tinha sido bastante evangelizada e, na época, ficávamos debaixo de chuva ou de sol de 40 graus, mas as portas não se abriam mais, os outros não paravam para nos ouvir nas ruas ou nas suas casas. Oramos a Deus para pedir uma cidade nova para evangelizar. E descobrimos Kikugawa”, ela diz em reportagem especial da BBC Brasil.
Junto com outros missionários, Megume batia às portas das casas de brasileiros para convidá-los a participar das células e cultos. “A igreja de Kikugawa se estruturou e reuniu muitos discípulos. Foi a hora para nós, missionários, partimos para outra cidade”, lembra.
Hoje, aos finais de semana, a jovem viaja à Okazaki, na província vizinha de Aichi, para pregar a Palavra de Deus. A comunidade já reúne cerca de 50 fiéis, entre eles, 5 japoneses.
“Missionários não ficam pulando de galho em galho. Temos nossa casa e nosso pastor, mas estamos sempre prontos para sair da nossa geografia e ajudar na construção de novas igrejas”, explica Megume.
“Nosso foco é o Japão, mas é impossível ganhar os japoneses se não tivermos um exército forte. Nós precisamos de aliados, como diz a Bíblia. E os aliados são os jovens brasileiros, que já dominam a língua japonesa e que, um dia, vão conversar de igual para igual sobre o amor de Jesus com os japoneses”, acrescenta a missionária.
Megume Uehara divide sua vida como missionária e operária em uma fábrica no Japão. (Foto: Arquivo pessoal)
Cristianismo no Japão
Com um histórico de perseguição ao cristianismo entre 1614 e 1873, o Japão é um país predominantemente budista e xintoísta — as duas religiões abrangem mais de 90% da população.
Segundo o Shukyo Nenkan de 2019, o relatório religioso anual da Agência de Assuntos Culturais do Japão, há 84 mil organizações xintoístas (46,9%), 77 mil budistas (42,6%) e 4,7 mil cristãs (2,6%) ativas. Há também 14 mil organizações de outras religiões (7,9%) não identificadas nominalmente.
Os dados oficiais não apontam para um crescimento expressivo do número de igrejas — em 2009, havia 4,3 mil organizações ativas (2,4% do total), ou seja, apenas 400 a menos que 2019. No entanto, fora das estatísticas, imigrantes impulsionaram uma onda de novas igrejas evangélicas brasileiras.
Segundo artigos acadêmicos da Igreja Metodista Livre, estima-se que, em 1997, havia 75 grupos evangélicos brasileiros no Japão. O número cresceu para 200 em 2002 e 441 em 2007, de acordo com a revista evangélica Mensageiro da Paz, sem contar movimentos neopentecostais como a Igreja Universal.
O registro oficial das igrejas brasileiras é dificultado pela burocracia japonesa, explica o sociólogo Masanobu Yamada, professor da Universidade Tenri (Nara), que desde 1996 estuda religiões japonesas no Brasil e religiões de dekasseguis no Japão.
Estima-se que, em 2008, havia cerca de 500 novas igrejas evangélicas brasileiras que não eram oficialmente reconhecidas no Japão.
O sociólogo Rafael Shoji, co-organizador do livro Transnational faiths: Latin-American Immigrants and their religions in Japan (Routledge, 2014), fez um levantamento da presença de igrejas pentecostais nas províncias de Aichi, Shizuoka, Gifu e Ishikawa, durante temporada de pesquisa na Universidade Nanzan, em Nagoia (Aichi).
O estudo de Shoji identificou, entre 2004 e 2008, 313 instituições voltadas a brasileiros: 47% delas evangélicas e neopentecostais, 25,6% de novas religiões japonesas, 20,8% de católicas e as demais budistas, espíritas ou umbandistas. Entre as evangélicas, as mais fortes são Assembleias de Deus (24%), Igreja Universal (10%) e Missão Apoio (10%).
Igrejas brasileiras no Japão
Para muitos imigrantes, que deixaram o Brasil para encarar longas jornadas de trabalho, a igreja se torna sua família no Japão.
Com foco na assistência a imigrantes no Japão, a Missão Apoio (acrônimo de Assistência e Preparação de Obreiros Interligados na Obra) foi fundada em 1993 pelo pastor brasileiro Claudir Machado.
A Missão Apoio é liderada por Sergio Akira Kawamoto e sua esposa, Keila. (Foto: Arquivo pessoal)
Hoje a Missão Apoio é liderada pelo paranaense Sergio Akira Kawamoto, 35 anos, radicado no Japão desde 2000. Junto com sua esposa, Keila, ele tem feito um trabalho evangelístico para atrair não só brasileiros, mas também japoneses. Hoje, os cultos das manhãs de domingo, em português, reúnem cerca de 70 participantes. Os cultos da tarde, em japonês, reúnem 20 fiéis.
A Assembleia de Deus Cristã Água Viva (Adcav), em Suzuka (Mie), tem atraído especialmente jovens brasileiros, bolivianos e peruanos. Os cultos são feitos em português, com tradução simultânea para o japonês.
Os missionários da Adcav, Claudemir Fortunato e Sueli Yoshii Fortunato, ambos de 52 anos, começaram a atuar no país em 1998, pregando no templo, nas ruas e de porta em porta.
Desafios
O pastor paulistano Guenji Imayuki, 52 anos, trabalhou durante 7 anos com descendentes de japoneses no Brasil. Em 2015, passou a atuar como missionário no Japão pela Igreja Adventista Do Sétimo Dia. Em um antigo ponto de entretenimento e karaokê, ele inaugurou em 2017 o Centro Cristão Tokai, em Kakegawa (Shizuoka).
Imayuki diz que há uma grande dificuldade para inserir japoneses em igrejas com imigrantes brasileiros. “É a expectativa, mas a realidade é mais difícil do que nós imaginamos”, afirma.
“Toda igreja que tem mais de 30% de imigrantes é difícil, pois dificilmente os nativos vão aderir. Primeiro, precisamos alcançar e treinar os imigrantes brasileiros. Depois, a partir deles, pretendemos alcançar os japoneses”. Sua igreja, por exemplo, reúne cerca de 80 participantes; entre eles, apenas 2 são japoneses.
Imayuki explica que as igrejas japonesas são vistas como sérias, enquanto igrejas internacionais são consideradas mais amigáveis. No treinamento, no entanto, ele enfatiza que é preciso equilibrar a cultura brasileira com a japonesa, que é mais reservada.
O pastor também fala sobre a necessidade de despertar o interesse de jovens brasileiros e de outros estrangeiros asiáticos, como filipinos, nepaleses e vietnamitas. “É preciso trabalhar a mentalidade desses jovens: eles precisam conhecer a cultura japonesa, mas manter a identidade deles. É difícil professar a fé nesse país. É um longo caminho”, revela.
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