CHIFRE DA ÁFRICA
"Quando meu noivo desistiu de mim, eu fiquei tranquila,
pois eu havia feito a minha escolha pessoal, eu escolhi Jesus Cristo"
Nesse mês de março, a Portas Abertas faz uma homenagem a
todas as mulheres de oração, valentes na batalha, dispostas a trabalhar para o
reino de Deus e, em especial, às guerreiras que estão espalhadas pelo mundo,
sendo perseguidas, humilhadas e mal tratadas por aqueles que lutam contra o
Evangelho de Cristo. A Igreja Perseguida está repleta de vitoriosas e nós
sempre compartilhamos aqui as histórias delas, para que junto aos nossos parceiros,
possamos orar, tanto em tempos de guerra como em tempos de paz.
Hoje, vamos nos lembrar das mulheres do Chifre da África,
que fica na região nordeste do continente africano, incluindo países como a
Somália, Etiópia, Djibouti e Eritreia. O número de cristãos de origem muçulmana
está crescendo rapidamente por lá, mesmo com tanta perseguição e violência.
Recentemente, uma analista de perseguição viajou para lá, e teve um encontro
marcante com uma jovem cristã de apenas 20 anos de idade, conhecida como Hawa*.
"A primeira vista foi de uma mulher coberta da cabeça aos pés. Ela não
tirou o seu xador, a capa negra feminina que é muito comum nessa região, mas
deixou à mostra suas modernas sandálias de plataforma azul, que era um lindo
contraste diante de sua burca sombria", conta a analista.
Hawa tinha apenas alguns instantes para trocar algumas
palavras e contar rapidamente sua história, através de um tradutor intérprete.
Então ela começa: "Eu cresci numa família rica, meu pai era um líder
muçulmano que viajava para diversos países árabes, a fim de ensinar o islã.
Tanto ele quanto minha mãe, queriam o melhor para mim, então me enviaram para
outro país para que eu tivesse uma instrução religiosa adequada, de acordo com
os princípios deles. Eu estava noiva de um homem que vivia nos EUA e eu sabia
que meu casamento estava bem próximo". Mas a jovem teve uma doença
pulmonar grave e todos os planos tiveram que esperar. "Numa noite, no
hospital, eu tive um sonho, vi um homem sorrindo e chorando ao mesmo tempo. Eu
sabia que ele chorava por mim. Então, me ajoelhei diante dele e implorei para
que me mostrasse o caminho que me levasse para longe daquela doença. Depois
disso, despertei", relembra.
A jovem, que não entendeu o sonho, assim que recebeu alta
médica, foi falar com o líder da mesquita. "Para minha surpresa, ele disse
que o único que chora pelos pecadores é Jesus e então me deu uma Bíblia,
secretamente, que eu passei a ler todas as noites. Eu guardava debaixo do meu
travesseiro, e compartilhava minhas descobertas com minha irmã Zulfa. Então
decidi seguir a Cristo, mas eu continuava a fazer os rituais da mesquita, para
que ninguém percebesse. Meu coração foi se enchendo do amor de Jesus. Depois de
um tempo, tive outro sonho, onde eu recebia um telefonema que dizia ‘conclua
sua tarefa rapidamente, o caminho está aberto’. O telefonema foi interrompido e
um homem me levou até uma colina, passando por pessoas de várias
nacionalidades, então ele disse ‘esse é seu caminho’. E se foi", conta
ela.
Hawa tentou contar à mãe, mas ela pensou que o sonho se
relacionasse ao noivo. Alguns dias depois, sua família descobriu a Bíblia.
"Meu pai ficou tão furioso que jogou a Bíblia no meu rosto, depois me
bateu muito com um chicote, eu tenho as cicatrizes até hoje. Ele disse que eu
havia morrido para eles. Contaram sobre a minha conversão para meu noivo e ele
desfez então os planos de casamento. Mas eu fiquei firme, pois foi uma escolha
pessoal, e eu escolhi Jesus. Quando fui embora, Zulfa decidiu vir junto. Ela
sofreu muito, mas também estava decidida a se converter. Nunca antes havíamos
feito nada sozinhas, e nos encontramos numa situação difícil, sem casa, sem
comida e sem dinheiro. Meu pai ainda nos odeia, é por isso que usamos o xador,
para que ninguém nos reconheça", diz a jovem.
A analista comenta que Hawa conta sua história sem derrubar
lágrimas, mas quando fala da irmã, sua expressão fica mais triste, e num dado
momento ela esconde o rosto e chora soluçando. Então, ela se acalma e diz:
"A única coisa que posso fazer pela minha irmã é colocar as mãos sobre ela
e pedir para que Deus a proteja, pois ela sofreu tanto por minha causa, para
que tivéssemos algum dinheiro, ela até começou a fazer pão sírio para vender.
Ela sempre está perto do forno, exposta à fumaça e seus olhos estão sempre
irritados. Ela chegou a perder um pouco da visão", conta a cristã. Mas as
irmãs receberam ajuda de vários cristãos, dos líderes locais e da Portas
Abertas. "Atualmente, elas iniciaram um pequeno negócio, um café bem
equipado, onde também servem refeições. Nossa equipe também conseguiu cuidados
médicos para os olhos de Zulfa e ela está bem melhor agora", diz a
analista.
"Tudo o que fizeram pelas nossas vidas foi incrível,
recebemos a luz num momento de escuridão e essa luz brilha mais a cada dia. Nós
temos paz e oramos pelos nossos pais, e cremos que um dia eles também receberão
Cristo como Salvador", afirma Hawa. "Depois que nos despedimos, nos
olhamos por alguns instantes, e mesmo sem poder conversar por causa da barreira
dos idiomas, o silêncio entre nós era de comunhão e de conexão, aquele olhar de
despedida também fortaleceu a nossa fé. Ao abraça-la, senti que talvez nunca
mais a veja nessa vida, mas eu agradeci ao Senhor por sua obra e sua
misericórdia. Eu pude ver com meus próprios olhos um milagre de Deus, e isto
será inesquecível para mim", conclui a analista.
*Nome alterado por motivos de segurança.
Fonte: /www.portasabertas.org.br