O pastor Samuel da Silva explica que o chamado vai muito além de exercer uma função ministerial.
O chamado de Deus vai muito além de exercer uma função ministerial. (Foto: iStock)
Como encontrar propósito no meu trabalho? Meu chamado está ligado à minha profissão? Essas são questões que cristãos frequentemente lidam quando estão diante da palavra “vocação”.
Em entrevista ao Guiame, Samuel da Silva, pastor de Missões da Igreja Batista do Povo, explica que o chamado vai muito além de exercer uma função ministerial. “Na perspectiva bíblica, percebemos que pessoas que exerceram a sua vocação foram profissionais de vários segmentos”.
O tema será discutido por ele e outros preletores na Conferência Viver a Vocação entre 28 e 29 de setembro na Igreja Batista do Povo, na Zona Sul de São Paulo. Enquanto isso, o assunto foi amplamente esclarecido pelo pastor ao Guiame. Confira a entrevista na íntegra:
Guiame: Como os cristãos podem identificar a profissão como uma extensão do ministério?
Pastor Samuel da Silva: Na perspectiva da maioria dos cristãos, o chamado está sempre mais relacionado ao chamado ministerial. Mas quando olhamos na perspectiva bíblica, podemos perceber que homens e mulheres que exerceram a sua vocação foram profissionais de vários segmentos.
Quando Adão recebeu o sopro divino, Deus compartilhou o que os teólogos chamam de “atributos comunicáveis” — habilidades para planejar, pensar, amar e exercer justiça. O homem é um administrador da Criação de Deus. Como ele vai administrar se não receber essa habilidade?
Os profissionais são peças importantes em toda a narrativa bíblica. A exemplo disso temos José, Daniel, Ester, Neemias e mesmo no Novo Testamento temos Dorcas, uma mulher viúva que, apesar de receber benefícios do governo, fazia jaquetas para outras mulheres.
Todo ser humano é capacitado, tem habilidades e dons por meio dos quais expressam aquilo que Deus lhes deu para promover o bem da humanidade. O chamado não é só para exercer uma função ministerial e espiritual, o chamado deve influenciar todos os segmentos da sociedade.
Obviamente que há pastores, evangelistas e ministros de louvor, mas não significa que estes são melhores do que outros profissionais. Eles foram chamados para exercer tal ministério, outros podem exercer por meio da profissão que Deus lhes deu.
Nós devemos olhar a vocação. O Dr. Russell Shedd disse que essa palavra aparece pelo menos 150 vezes na Bíblia e está relacionada a Deus convocando as pessoas. John Stott disse que o poder para mudar o mundo está dormindo no banco das igrejas. Nós precisamos reconhecer os profissionais como homens e mulheres chamados por Deus para dar continuidade à história do cristianismo no Brasil e no mundo.
Guiame: Quais foram as maiores dificuldades que você identificou entre os profissionais de sua igreja à respeito do evangelismo no ambiente de trabalho?
Pastor Samuel: Uma das dificuldades que eu percebi é de se iniciar uma conversa, porque sempre pensamos que uma conversa para apresentar Jesus deve ser puramente espiritual. As conversas podem ser iniciadas de forma muito simples, falando sobre coisas do dia a dia, problemas na família, no trabalho, uma doença, uma perda irreparável ou uma crise pessoal.
Nós precisamos criar essa conexão com as pessoas, viver esse Evangelho mais humanizado, mostrar que nós também passamos por dificuldades, temos perdas irreparáveis e situações que até mesmo como cristãos não sabemos como lidar.
Eu percebo que as pessoas querem ferramentas e dependem muito delas. O Evangelho é muito simples. Não desprezo as técnicas, mas em nossa experiência, quando tínhamos menos ferramentas foi quando mais levamos pessoas a Jesus.
Eu sempre falo às pessoas que elas devem trazer Deus para o ambiente de trabalho — ou melhor dizendo, entender que Deus já está lá. Ele está mais interessado nas pessoas do que nós mesmos.
Eu às incentivo a perguntar o que Deus está fazendo ali para que elas possam ser parceiras de Deus naquele ambiente de trabalho. Quando fazemos essas perguntas, é impressionante como recebemos uma percepção de que Deus já está trabalhando no coração de alguém naquele lugar e que o próprio Deus vai preparar esses momentos para que ideias sejam compartilhadas e o Evangelho seja apresentado.
Temos que desmistificar um pouco essa questão de compartilhar o Evangelho dependendo simplesmente da técnica. Temos que ser um pouco mais dependentes de Deus e perguntar o que Ele já está fazendo naqueles ambientes que frequentamos.
Guiame: Como a Igreja pode se tornar mais relevante em todos os setores da sociedade?
Pastor Samuel: A primeira coisa é pastores e líderes reconhecerem os profissionais como vocacionados e entender que esses homens e mulheres que trabalham das 8h às 18h são agentes do Reino de Deus para influenciar e transformar os ambientes onde trabalham.
Há um material que diz que cerca de 90% dos profissionais nunca ouviram um sermão com princípios que se apliquem à sua profissão. Imagine esses profissionais que se espalham por uma cidade como São Paulo preparados, cheios de Deus, cheios do Espírito Santo, cheios de paixão, reconhecendo que Deus os colocou nesses lugares porque quer fazer algo muito maior na vida deles do que simplesmente trabalhar e ganhar dinheiro. Deus está preocupado com vidas e a prioridade Dele é a salvação das pessoas.
Como pastor, hoje me considero um facilitador vocacional. Eu sempre falo na Igreja Batista do Povo que as pessoas que vão fazer a história do cristianismo no Brasil são aquelas que estão sentadas nos bancos das nossas igrejas. Precisamos enviá-las, mas antes disso nós temos que reconhecê-las como pessoas chamadas e escolhidas por Deus para proclamar a boa notícia do Evangelho e influenciar todos os segmentos da sociedade.
FONTE: GUIAME, LUANA NOVAES