quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Conflito em Catatumbo afeta a igreja na Colômbia

A violência causou a maior crise de deslocados internos do país

Fonte: Portas Abertas

A igreja está no fogo cruzado do tráfico de drogas na Colômbia (Foto: Portas Abertas)

A crise humanitária em Catatumbo começou há mais de um mês e continua a piorar à medida que dissidentes das FARC e do Exército de Libertação Nacional (ELN) lutam pelo controle das rotas de tráfico de drogas. Em meio a esse caos, a Igreja está levantando sua voz, clamando por paz e proteção para os mais vulneráveis.

Parceiros locais da Portas Abertas se encontraram na semana passada com a igreja na região para entender a situação atual e orar por eles. A região do conflito fica no Norte da Colômbia, na fronteira com a Venezuela. A luta pelo controle das rotas de tráfico de drogas e pela dominação territorial levou a ameaças generalizadas, assassinatos, deslocamentos em massa e severas restrições à população.

De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), mais de 80.600 pessoas foram afetadas pela violência. Destas, aproximadamente 52.300 foram forçadas a fugir de suas casas, 19.000 enfrentam restrições de mobilidade dentro de seus territórios e 8.668 estão sob confinamento forçado.

Maior deslocamento da história

“A violência em Catatumbo gerou o maior deslocamento em massa desde que começamos a manter registros na Colômbia. As comunidades estão confinadas, com mobilidade restrita e acesso limitado a alimentos, cuidados médicos e ajuda humanitária", conta Mireille Girard, representante do ACNUR na Colômbia.

A gravidade da crise levou o presidente Gustavo Petro a declarar Estado de Comoção Nacional em 24 de janeiro – uma medida legal excepcional não invocada há mais de uma década. Esta declaração concede a ele poderes extraordinários para emitir medidas legislativas e restaurar a ordem por um período inicial de 90 dias.

"O medo é constante. Sentimo-nos completamente vulneráveis", compartilha Josué*, um pastor que serve na região há mais de uma década. A ameaça de retaliação é tão severa que muitos pastores evitam falar ou pedem que seus testemunhos não sejam gravados, pois qualquer comentário vazado pode resultar em uma sentença de morte.

Apesar desses medos, pastores e líderes cristãos relatam múltiplas formas de perseguição, incluindo restrições de mobilidade, proibição de atividades evangelísticas, fechamento de igrejas, ameaças diretas e a apreensão de templos por grupos armados para uso como bases operacionais.

Pablito*, outro cristão em Catatumbo, relatou que seus pastores foram ameaçados por um líder local ligado a um grupo criminoso. “Eles os forçaram a fechar a igreja e proibiram os cultos porque já haviam prendido outro pastor acusado de ajudar o grupo opositor”, disse ele.

Giovanny* e Camen*, um casal missionário, também foram impactados. Eles estavam realizando esforços evangelísticos e pregando em várias comunidades indígenas ao longo da fronteira com a Venezuela, até que um comandante os parou e avisou que, se continuassem, a abordagem seria diferente, uma ameaça que poderia variar de agressão à morte.


*Nomes alterados por motivo de segurança


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