Com média de 70 pessoas embaixo da mangueira, os cultos são ao ar livre, todas as segundas-feiras, na comunidade de Vila Cabral, em Fortaleza.
FONTE: GUIAME, ADRIANA BERNARDOCulto na ‘Igreja da Mangueira’, na comunidade de Vila Cabral.
(Foto: Reprodução / Cid Guerreiro)
Uma árvore, especificamente um pé de manga, um altar e cadeiras. Esse é o cenário onde acontecem os cultos da “Igreja da Mangueira”, na Vila Cabral, uma comunidade carente nos arredores de Fortaleza. O trabalho da igreja, hoje conduzido pelas mãos do cantor e evangelista Cid Guerreiro e sua esposa Andrea, começaram com um evangelismo no local, há três anos.
“Eu conheci a Vila Cabral quando fomos levar a palavra do Senhor no Natal, e me apaixonei pelo lugar. Então começamos a fazer um GE (Grupo de Evangelismo) às segundas-feiras, quando eu e minha esposa nos propusemos a tocar a obra de Deus ali”, explica Cid em entrevista ao Guiame.
Apesar de ser a céu aberto, a igreja de Vila Cabral segue a mesma liturgia de uma igreja de quatro paredes. “Os cultos começam com os louvores, depois a gente ministra a palavra que termina com oração. É uma igreja mesmo, com tudo que tem que ser feito. E o principal: com a presença do Espírito Santo. Deus está criando um novo exército e derrubando as paredes das igrejas para que justamente a palavra chegue nos lugares mais longínquos”, diz.
Cid conta que a Vila Cabral é um vilarejo onde a macumba predominava. “O mais velho da turma, o Chico, hoje é meu braço direito. Ele era o chefe da macumba, que já tinha expulsado alguns pastores correndo atrás deles com facão”, relata.
Hoje Chico é um dos principais auxiliares de Cid: “Ele é o cara que varre a mangueira, que prepara as cadeiras, que prepara o altar, que prepara todas as coisas para o culto”, explica.
Cid conta que houve uma grande diferença que provocou essa nova reação das pessoas: “Começamos um trabalho derramando muito amor, com evangelismo no início, depois é que foi se tornando uma igreja, e as pessoas foram aceitando Jesus como Salvador”.
Isso, segundo ele, fez com elas fossem mudando de concepção. “Muitos ainda têm as suas crenças, mas ficam ouvindo a palavra nos muros. A palavra está sendo lançada e eles têm muito respeito pela igreja e por nós. Até as pessoas mais perigosas dizem ‘o pastor pode entrar aqui’”, conta Cid, que há 3 anos está à frente da igreja local ainda a céu aberto.
Com média de 70 pessoas embaixo da mangueira, entre crianças e adultos, Cid explica que a mensagem alcança muito mais gente: “As pessoas ficam nas portas das casas ouvindo o culto, outras escondidas dentro do mato porque não podem aparecer. Mas todas estão ouvindo a palavra. A vantagem da ‘igreja da mangueira’ é que por ela não ter paredes, a palavra entra na casa das pessoas, entra no coração. Usamos uma caixinha de som e o som sai e entra na casa das pessoas”.
Deus parava a chuva
Cid disse que perguntou a Deus como eles plantariam uma igreja num lugar tão difícil de chegar: “Quando chove, é praticamente impossível entrar com o carro, só com a picape, mas eu coloquei tudo nas mãos do Senhor. E eu disse a Deus: ‘como a gente vai colocar uma igreja aqui se não tem um local [para isso], não tem dinheiro?’ E Deus falou: ‘A igreja vai ser embaixo da mangueira’, e me mostrou onde era a mangueira”.
Preocupado porque era uma época de muita chuva, que causa muita dificuldade de acesso ao local, e da própria comunidade participar dos cultos, ele conta que sobre isso Deus o respondeu: “Em nenhuma segunda-feira vai chover”.
“Me apeguei à palavra do Senhor e disse ‘se em nenhuma segunda-feira vai chover, o Senhor pode ter certeza de que eu cuido do Seu rebanho’. Há 3 anos e 5 meses, pela misericórdia do Senhor, em nenhuma segunda-feira chove na hora do culto”, atesta.
Cid conta que houve várias e várias vezes, que choveu – durante semanas e às vezes o dia todo na segunda-feira –, mas quando chega próximo das 5 horas [da tarde], perto do horário do culto, ele começava a orar, dizendo: “Deus está chovendo, como é que vai ser? E eu ouvia Deus me dizer: ‘Eu fiz uma aliança com você, creia’. Eu chegava lá no lugar, por volta das 6 horas, e a chuva parava, a gente montava as cadeiras, tinha o culto e a chuva só voltava por volta das 11 horas da noite, com o céu todo preto, raios... Mas no local, durante o culto, não chovia. Então Deus sempre cumpriu com a palavra”.
Experiências com Deus
Cid conta que a Vila Cabral é um lugar onde, pela misericórdia o Senhor, acontecem muitos milagres. Ele diz que o povo é muito carente e há necessidade de tudo. Não tem dinheiro para a sobrevivência, mesmo porque lá tem guerras de facções, com tiroteios e muitas mortes. “O Senhor foi amenizando tudo isso, eles pediam dinheiro para alimento, e eu dizia para eles: ‘não, a gente vai plantar e da colheita daqui da terra virá o recurso’. A gente começou a plantar coentro, cebolinha e eles começaram a colher e vender”, conta.
“Por causa da dificuldade de acesso e do medo que as pessoas tinham de entrar lá (claro que ainda tem problemas, mas graças a Deus, muito menos), Deus está a cada dia nos dando vitória e a gente está conseguindo fazer com que aquela vila esteja mais aos pés do Senhor”, testemunha.
Cid conta que o povo de Vila Cabral tem muita sede de Deus e que Deus está fazendo uma revolução naquele lugar. “A gente vê transformações ali, os testemunhos são muito grandes, as coisas que acontecem são muito fortes”.
Um dos ensinamentos que Cid fez questão de deixar claro, é que todo esse mover é espiritual e feito exclusivamente por Deus. “Eles sabem que ali não é o homem, é uma das coisas que eu mais prego”, diz.
“Quando começaram a acontecer muitos milagres, começou aquela coisa normal que existe das pessoas quererem entregar a glória para o homem”, explica Cid. “Mas Deus me deu uma direção de não apenas eu orar, mas de colocar eles para orarem uns pelos outros. E foi aí que ficou mais lindo ainda, porque quando eles entenderam que a unção que estava nas minhas mãos também poderia chegar nas mãos deles, eles começaram a orar uns pelos outros e os milagres também aconteciam. Eles transbordam o amor de Deus uns na vida dos outros”, diz.
Milagres
Dentre os vários milagres em Vila Cabral, Cid destaca alguns. “Tem mulheres curadas de câncer; temos um menino que recebeu mais de 20 tiros e nenhum pegou nele, enquanto era alvo de tiro, ele gritava que o Senhor era o seu escudo; tem um poço que não dava água a mais de 15 anos e agora dá uma água boa, mineral; uma senhora que era surda e agora escuta; quando tem as invasões eles oram e Deus dá livramentos... são vários milagres de todas as áreas”, relata.
Por conta da pandemia os cultos na Vila Cabral estão proibidos, mas eles se “reúnem” virtualmente, diz Cid. “Não temos o culto presencial, mas continuamos com o culto via WhatsApp; as pessoas ficam em casa para participarem dos cultos todas as segundas-feiras”, explica.
Cid já tem uma pequena equipe, formada por pessoas locais, que o auxiliam no ministério: “Além do Chico, tem a tia Hilda, que me ajuda na intercessão, e o Jean e a Rute. O Jean é mestre de judô e jiu-jitsu, dá aulas para as crianças da igreja. Também estamos implantando futebol lá. Temos um menino da comunidade que dá reforço escolar. A gente tenta fazer o melhor para o Senhor, que é cuidar daquele rebanho”.
Por ser uma comunidade muito carente, com “falta de tudo”, diz Cid, ela também é assistida com parcerias feitas para isso. “A gente consegue peixes, cestas básicas e sempre estamos fazendo alguma ação para ajudá-los. Mesmo que o poder público não ajude, vemos a mão do Senhor ali, que é o melhor de tudo!”.
Ministério
Cid explica que nunca quis ser pastor, há 8 anos chegou a recusar um convite para cuidar de uma igreja nos Estados Unidos. Mas na Vila Cabral foi diferente. “Deus falou muito forte ao meu coração para que eu cuidasse daquele povo. Ele me acordou de madrugada dizendo: ‘Cid, você me ama?’. Quando Ele falou isso, eu sabia que era alguma missão que Ele ia me dar”, lembra.
Ele conta que quando Deus pediu para ele cuidar daquelas ovelhas, “sabendo que Deus estava me chamando, coloquei a minha vida à disposição do Senhor. E aceitei de coração”.
Com cerca de 60 casas, a Vila Cabral é um local onde há falta de tudo, diz Cid. Por essa razão, a igreja passou a apoiar as famílias e as crianças locais, com assistência social, com eventos em datas especiais, como Dia das Crianças e Natal. Para ajudá-los a ter recursos financeiros, eles compram mudas de temperos para que possam plantar e vender. Eles também contam com ajuda de ofertas voluntárias que chegam de diversas partes. Mas ainda não é o suficiente, e eles precisam de mais apoio, explica Cid, que deixa seu contato para quem desejar ajudar a missão: cid.guerreiro@hotmail.com