Por Johnny Bernardo
No quarto artigo da série A Bíblia nos Ensina a Viver iremos
tratar de um tema espinhoso para muitas pessoas, que possui inúmeras
características e aplicações práticas dentro da realidade social, do
relacionamento entre pessoas que compartilham situações conflitantes,
experiências e conselhos – aliás, conselhos existem aos montes, porém nem
sempre construtivos ou que levem o ouvinte a uma mudança positiva de vida. De
fato, o viver em sociedade não é uma tarefa das mais fáceis, principalmente
pensando que há uma série de opções de “escape da realidade”, de
“desvirtuamento dos padrões bíblicos e familiares de vida”. Neste contexto de
opiniões e pensamentos divergentes é preciso desenvolver a capacidade do “ouvir
com sabedoria e discernimento”. Em suma, significa dizer que devemos entender o
que ouvimos e compreender o seu significado.
A dor e o sofrimento são consequências da rebeldia
Como veremos adiante, a dor e o sofrimento são algumas das
consequências do “ouvir e não praticar”, da rebeldia generalizada e desenfreada
que caracterizam a sociedade do século XXI. Para ilustrar o presente tópico
apresentaremos o testemunho de uma filha rebelde que, ao perder sua mãe em um
acidente, arrependeu-se de seu erro.
“Prezado pastor.
Para muita gente hoje (dia das mães) é um dia de felicidade
e alegria, principalmente para aqueles que têm suas mães vivas, mas para mim
não. Hoje é um dia triste, tristeza gerada pela minha própria pessoa. Digo
assim porque perdi minha mãe. Alguns anos atrás eu tinha 16 anos de idade. Hoje
fujo das comemorações porque só me trazem lembranças tristes e remorso de minha
ingratidão com minha mãe em vida.
Pastor, talvez eu tenha sido uma das filhas mais rebelde e
respondona que uma mãe venha possuir. Quantas vezes eu vi minha mãe orando por
mim e eu pedia para ela acabar com aquelas orações bobas pela minha pessoa. Há
se tivesse minha mãe para me dar um grande beijo e um abraço. Infelizmente ela
não vive mais. Lembro-me que um dia comecei a me arrumar para ir a uma festa.
Minha mãe me pediu com paciência de mulher cristã por tudo que eu não fosse
para a festa, mas eu teimei, discuti, xinguei-a de “velha nojenta e enjoada” e
ainda por cima ao sair de casa a mandei para o inferno.
Minha mãe não dormiu enquanto eu não cheguei. Naquela noite
caiu uma chuva torrencial. Já era uma hora da madrugada quando minha mãe pegou
o guarda-chuva e uma capa plástica para ir me buscar na festa. No caminho um
ônibus desgovernou-se e pegou trés pessoas na pista, uma delas a minha mãe que
morreu na hora. Eu saia da festa com minhas colegas quando de longe vimos uma
multidão de pessoas e logo alguém veio me falar que minha mãe estava morta.
Encontrei-a ainda segurando a capa que levava para me apanhar, e não me molhar.
Morreu na intenção de me proteger.
Naquele momento eu abracei minha mãe como nunca tinha
abraçado antes. Chorando desesperada, eu pedi perdão, mas já era tarde. Ela
não podia me ouvir. Pastor diga aos jovens de sua igreja que nossas mães só
querem o nosso bem. As bençãos e os conselhos de minha mãe são eternos. Só hoje
sei quanto é importante o quinto mandamento. Guardo o bilhete com todo carinho
que três dias antes de morrer ela colocou em cima de minha cama com as
seguintes palavras: “Minha filha, dizem que a ingratidão tira a feição, mas com
toda a ingratidão, tuas desobediências, tua falta de reconhecimento ao amor que
eu tenho por ti jamais vou tirar você do meu coração”.
Que história impactante. Acredito que você conhece alguém
que passou por uma situação semelhante, de muita dor e sofrimento. A história
desta jovem ilustra uma realidade presente na sociedade desde os tempos
imemoriais: de desobediência aos conselhos de pais e responsáveis. Foi assim no
começo, no Éden. Pai de toda a humanidade, Adão possuía um relacionamento de
submissão em relação ao criador. Deus criou o homem e deu-lhe
responsabilidades. Cabia ao homem ouvir as orientações divinas. Era algo
simples, apesar de exigir empenho e persistência em obedecer. Deus estava com
ele diariamente, tal como um pai presente na vida do filho – e olha que hoje é
algo cada vez mais raro, principalmente nas grandes cidades e metrópoles, onde
pais e filhos mantêm um relacionamento praticamente virtual, sem tempo para
quase nada. Entre Deus e Adão havia um relacionamento harmonioso. Havia amor e
comunicação.
Eram constantes as visitas de Deus ao homem. Tal
relacionamento serviria de modelo para o relacionamento entre Adão e sua prole
(descendência). Como o jardim do Éden, era preciso que a convivência com o
criador fosse regada constantemente. Nada poderia fugir ao “padrão”
estabelecido por Deus, de visitas diárias e constantes para averiguar o
desempenho do homem em sua atividade de conservação do jardim. A presença do
homem naquele lugar dependia, entretanto, do cumprimento de um requisito básico
e fundamental: jamais, e em qualquer situação ou momento, comer do fruto
proibido. “ […] De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do
bem e do mal, dela não comerás […]” (Gêneses 2.15 -16). Deus estabeleceu
limites ao homem, pontos ou áreas restritas que ele deveria evitar, apesar de
conceder “liberdade de escolha”. Não era algo necessariamente impositivo, mas
opcional. Deus não impõe.
De forma semelhante, a filha rebelde era constantemente
orientada por sua mãe quanto aos perigos do mundo. Não havia imposição, mas
advertências recheadas de amor e carinho. Deus amava a sua criação e por isso
deu a ela “opções de escolha”. Era preciso que o homem obedecesse a Deus por
livre e espontânea vontade. A árvore da ciência do bem e do mal foi plantada no
meio do jardim do Éden justamente com o objetivo de servir como um “meio de
provação do homem”. Não era uma árvore qualquer, como também não foi plantada
no meio do jardim com outro objetivo a não ser a de servir como a primeira e
grande tentação do homem. Localizada no centro, por onde passavam
obrigatoriamente as trilhas do jardim, a árvore era vista todos os dias. Ela
estava lá à espera do primeiro vacilo do casal, da primeira tentação de
consumo. Provavelmente a árvore da ciência do bem e do mal era a mais bela e
chamativa árvore do jardim, de tamanho superior às demais. Há beleza no mundo,
nas festas dançantes.
Quem nunca foi tentado a deixar os cultos de sua igreja para
participar de uma festinha? Quem nunca foi tentado a deixar os conselhos dos
pais para seguir os conselhos dos ímpios? O salmista Davi era conhecedor desta
realidade. “Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios,
nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos
escarnecedores” (Salmo 1.1). “Seguir o conselho dos ímpios” equivale a observar
as orientações, as regras de convivência típicas de um grupo de pessoas que não
priorizam Deus em suas vidas. De fato o mundo possui uma capacidade de atração
muito grande, capaz de fisgar novos consumidores de seus produtos pecaminosos.
No entanto, as consequências são sentidas posteriormente. Deus advertiu Adão
que “no dia em que ele comesse do fruto proibido ele certamente morreria”. Foi
justamente o que aconteceu: ao seguir os conselhos da serpente (Gênesis 3.1-6),
Adão e Eva morreram espiritualmente, como também fisicamente. É óbvio que eles
não tombaram mortos como no caso de Ananias e Safira (Atos 5), mas o relógio
biológico do homem foi acionado no momento em que pecou.
Não devemos dar ouvidos aos espíritos enganadores
O principal erro de Adão e Eva foi “dar ouvidos à
argumentação da serpente”. O diabo é expert em provocar no homem o “desejo pelo
desconhecido”, a “vontade de se provar daquilo que é proibido”. Nunca ouviu a
frase de que o que é “proibido é mais gostoso”? É algo, diria, comum em nossa
sociedade. Os jovens são as principais vítimas do sistema consumista e
pecaminoso de nossa geração, assim como o foi Adão e Eva. É parte da estratégia
de dominação psicológica e espiritual promovida pelos agentes do mal. Vivemos
dias tenebrosos, para sermos mais específicos em nossa abordagem. A filha
rebelde é um exemplo de como funcionam as estratégias do inimigo. Desobediente,
ela trocou os bons conselhos de sua mãe por uma breve curtição com as amigas.
Somente após a morte de sua mãe ela reconheceu seus erros. A vida segue este
ciclo de rebeldia, curtição, dor e despertar para uma nova realidade. Foi assim
quando dos primeiros anos de Israel na Terra Prometida, quando um pequeno grupo
de nações passou a oprimir os descendentes de Abraão (Juízes 3.1). Era parte do
aprendizado.
De forma profética, o apóstolo Paulo descreve em sua
primeira carta a Timóteo um pequeno lampejo da forma como os espíritos
enganadores atuariam nos “últimos tempos” (I Timóteo 3.1-3). Não seria algo
necessariamente novo, dado ao fato de que temos inúmeros outros exemplos ao
longo da História de movimentações malignas. O que diferencia nossa geração das
gerações antigas é que o inimigo não mais atua por meio de governos ou
instituições religiosas opressoras, mas por meio de subterfúgios de aceitação
popular, por meio de “redes de convencimento”, de ideias tornadas “populares”,
como a exemplo do Relativismo Cultural. “Não há certo ou errado”, argumentam os
relativistas culturais. A ideia por trás é que “não há verdade absoluta”, de
que “cada cidadão deve decidir como viver de acordo com sua vontade e desejo”.
Neste ponto temos que ressaltar que nossa convicção religiosa não pode se
sobrepor as convicções religiosas ou filosóficas de outros segmentos da
sociedade. Compreende? A fé é algo particular, e não social, no sentido de que
é preciso respeitar as diferenças.
Temos nossas diferenças com o mundo e seus princípios
religiosos e filosóficos, ma tal não significa que temos o direito de dizer ou
impor nossas crenças aos outros. A disputa deve se dar no campo das ideias, e
não ultrapassar os limites legais e morais de nossas instituições. Agora, não é
por isso que devemos concordar com o desvirtuamento da família, abraçar as
ideias do Relativismo Cultural. Como cristãos, temos de rechaçar ideias que
tenham como objetivo destruir nosso conceito de família, nossa ideia de relação
matrimonial. É uma concepção – recorrendo a um termo usado por advogados –
“pétrea”, ou seja, perpétua, que não muda ou pode ser revogada por qualquer
ato. A nossa luta, ilustra Paulo de forma significativa, não é “contra a carne
e o sangue, mas contra as potestades, contra os principes das trevas deste
século, contra as hostes da maldade, nos lugares celestiais” (Efésios 6.12). A
batalha é espiritual, e não material.
Que queremos dizer com semelhante argumentação? É que não
devemos nos envolver em discussões e enfrentamentos que não o seja nos lugares
celestiais. Enquanto escrevemos estas linhas há uma onda de ódio e polarização
social em curso em nosso país, com resultados inesperados mesmo para os
especialistas em conflitos. Por trás desta onda de tensão há uma força maior,
de espíritos destruidores que têm como único e principal objetivo disseminar o
ódio, o pânico e a destruição de vidas. No meio deste vendaval encontramos a
Igreja, o povo de Deus, que tem o amor ao próximo como sua base fundamental e
central de ação. Devemos amar indiscriminadamente a todos, e não dar ouvidos a
conselhos e doutrinações que nos coloquem em rota de colisão com nosso
semelhante. Não há maior mandamento do que o amor a Deus, e semelhante a este o
amor ao próximo como a nós mesmos. Milhares de pessoas morreram nas duas
Grandes Guerras, no Vietnã, em conflitos localizados na África e no Oriente
Médio. Tanto cristãos quanto muçulmanos são vítimas do ódio e do fanatismo.
É de Jesus a informação de que “o ladrão não vem senão a
roubar, a matar e a destruir” (João 14.10/a). Desde a queda de Adão e Eva – ou
mesmo antes, com a rebelião de Lúcifer contra Deus – a principal intenção do
inimigo é a de roubar, matar e destruir, e ao longo dos séculos ele vem
aperfeiçoamento sua estratégia de ação. Por meio de mecanismos de sedução, ele
conduz centenas de pessoas a mais profunda alienação. Dentro do arco de
influência encontramos diversos agentes, sejam eles físicos ou jurídicos
(instituições religiosas, meios de comunicação, organizações políticas) que
recorrem a meios ardilosos de convencimento de quem lhes dê ouvidos.
Particularmente nas grandes cidades, religiões de origem norteamericana e
oriental atraem seguidores por meio de pregações sobre prosperidade, saúde,
felicidade, encontro do grande amor. Não
há nada de errado no fundamento das mensagens, mas o que devemos destacar é a
forma como estas instituições religiosas seduzem novos seguidores. São almas
carentes.
Em suma, há inúmeras vozes a convencer o homem de que este
deve se preocupar apenas com seus problemas imediatos, e não com sua salvação
eterna. Adão e Eva foram manipulados pela serpente, com o argumento de que “no
dia em que dele comerdes sereis como Deus, sabendo e o bem e o mal” (Gêneses
3.5). O inimigo é experiente no sentido de que possui uma grande capacidade de
sedução, de manipulação de textos bíblicos que eventualmente lhes sejam úteis.
O diabo soube recorrer aos mais profundos desejos de Adão e Eva de transpor os
limites do Éden, de ter acesso ao conhecimento. Há muito eles desejavam provar
do fruto proibido, razão pela a qual foi Eva quem convenceu seu marido das
vantagens de se provar de tal fruto. Uma breve conversa com a serpente foi
suficiente para que Adão e Eva se deixassem seduzir. A partir daí entendemos a
importância de se desenvolver a capacidade crítica, do “ouvir com
entendimento”, de não se deixar seduzir pela aparência das coisas. Na Bíblia, o
termo ouvir (Shamah) aparece 1085 vezes e tem o sentido de “entender”.
Portanto, é preciso que o cristão aprenda a ouvir e entender
as orientações divinas, e obedecê-las. Este é o único e principal segredo da
vitória, de ter uma vida plena de felicidade e vida.
Fonte: http://www.pulpitocristao.com/