sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

100 segundos para o apocalipse: como ler o Relógio do Juízo Final

  • SJ Beard*
  • BBC Future
Imagem do Relógio do Juízo Final

CRÉDITO,THOMAS GAULKIN/BULLETIN OF THE ATOMIC SCIENTISTS

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O Relógio do Juízo Final marca 100 segundos para a meia-noite

O Relógio do Juízo Final mostra como a humanidade está perto do apocalipse. Mas de onde ele vem, como ele lê o tempo que falta e o que podemos aprender com ele?

Foi de uma professora na escola, em meados dos anos 1990, que ouvi falar pela primeira vez do Relógio do Juízo Final.

Ela contou à minha classe sobre os grandes eventos da história, explicando que, se tudo o que aconteceu no nosso planeta fosse comprimido em um único ano, a vida teria surgido no início de março, os organismos multicelulares em novembro, os dinossauros no final de dezembro e os seres humanos somente entrariam em cena às 23h30 da Véspera de Ano Novo.

Depois, ela comparou esse grande período da história com o nosso futuro e como ele pode ser curto - e disse que um grupo de cientistas nos Estados Unidos acha que podemos ter apenas alguns minutos metafóricos até meia-noite.

Mas nunca havia passado pela minha cabeça que, algum dia, eu poderia estar trabalhando com a mesma questão, como pesquisador do Centro de Estudos dos Riscos Existenciais da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. É uma história impressionante e, por muitos anos, eu pensei que o Relógio do Juízo Final significava que seus ponteiros representassem o tempo que nós temos até o fim.

Mas não é exatamente isso.

Há 75 anos, os cientistas responsáveis pelo Relógio do Juízo Final publicam, no Bulletin of the Atomic Scientists ("Boletim dos Cientistas Atômicos", em tradução livre), sua conclusão anual de quanto tempo falta para que os ponteiros do Relógio do Juízo Final indiquem meia-noite.

Todos os anos, o anúncio destaca a complexa teia de riscos catastróficos enfrentados pela humanidade, incluindo armas de destruição em massa, colapsos ambientais e tecnologias problemáticas.

E, em 2020, a presidente do Boletim, Rachel Bronson, anunciou solenemente que os ponteiros do Relógio haviam se movido para mais perto do apocalipse do que nunca - apenas 100 segundos, posição que foi mantida desde então.

Mas, para compreender o que isso realmente significa, é preciso entender a história do Relógio, quais as suas origens, como interpretá-lo e o que ele diz sobre a crise existencial da humanidade.

A criação do Relógio

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João Fellet tenta entender como brasileiros chegaram ao grau atual de divisão.

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A velocidade e a violência da evolução da tecnologia nuclear foram de tirar o fôlego, mesmo para as pessoas envolvidas no seu desenvolvimento.

Em 1939, os renomados cientistas Albert Einstein e Leo Szilard escreveram para o presidente dos Estados Unidos sobre uma descoberta muito poderosa na área da tecnologia nuclear, que poderia ter consequências bélicas tremendas: uma única bomba nuclear "transportada de navio e detonada em um porto poderia muito bem destruir todo o porto". Era uma possibilidade muito significativa que não poderia ser ignorada.

Essa carta levou à criação de um enorme projeto de colaboração científica, militar e industrial - o Projeto Manhattan - que, em apenas seis meses, produziu uma bomba muito mais poderosa que a imaginada por Einstein e Szilard, capaz de destruir uma cidade inteira e sua população. E, poucos anos mais tarde, os arsenais nucleares já eram capazes de destruir toda a civilização como a conhecemos.

A primeira preocupação científica de que as armas nucleares poderiam ter o potencial de pôr fim à humanidade veio dos cientistas envolvidos nos primeiros testes nucleares. Sua preocupação era que as novas armas pudessem acidentalmente incendiar a atmosfera da Terra. Essas preocupações foram rapidamente desmentidas e, felizmente para todos os envolvidos, comprovou-se que eram falsas.

Albert Einstein e Leo Szilard

CRÉDITO,ALAMY

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Em 1939, Albert Einstein e Leo Szilard escreveram para o presidente dos Estados Unidos alertando sobre os perigos nucleares

Mesmo assim, muitas pessoas que trabalharam para o Projeto Manhattan continuaram a ter fortes reservas sobre o poder das armas que ajudaram a produzir.

Depois da primeira tentativa bem sucedida de dividir o átomo na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, em 1942, confirmando seu potencial de liberar energia, a equipe de cientistas que trabalhava no Projeto Manhattan se dispersou. Muitos deles mudaram-se para Los Alamos e para outros laboratórios do governo, a fim de desenvolver armas nucleares. Outros permaneceram em Chicago conduzindo suas próprias pesquisas.

Muitos desses cientistas haviam emigrado para os Estados Unidos e conheciam muito bem a conexão entre a ciência e a política. Eles começaram a organizar ativamente uma tentativa de garantir um futuro seguro para a tecnologia nuclear.

Eles ajudaram, por exemplo, a fazer avançar o Relatório Franck em junho de 1945, que previa uma corrida de armas nucleares cara e perigosa, e apresentaram argumentos contra um ataque nuclear de surpresa ao Japão. Naturalmente, suas recomendações não foram aceitas na época pelas pessoas responsáveis pela tomada de decisões.

Esse grupo criou o Boletim dos Cientistas Atômicos de Chicago e sua primeira edição foi publicada apenas quatro meses após o ataque com bombas atômicas a Hiroshima e Nagasaki, no Japão. Com o apoio do reitor da Universidade de Chicago e em colaboração com colegas especialistas em legislação internacional, ciência política e outros campos correlatos, eles ajudaram a criar e apoiar um movimento global de cientistas e cidadãos, capaz de afetar a ordem nuclear global.

Esse movimento teve sucesso notável, por exemplo, ao estabelecer o "tabu nuclear" - tanto que, em conversas privadas, o secretário de Estado norte-americano chegou a queixar-se de que o "estigma da imoralidade" evitava que os Estados Unidos usassem armas nucleares.

Ao decidirem manter sua sede em Chicago, os fundadores sinalizaram sua intenção de priorizar a colaboração com seus colegas cientistas e membros do público sobre os desafios éticos e políticos da tecnologia nuclear, sem se voltar para os líderes políticos e militares que tanto haviam depreciado suas preocupações até então.

Eles argumentavam que a pressão do público era fundamental para a responsabilidade política e a educação era o melhor canal para garantir essa pressão.

Posição do Relógio

CRÉDITO,FASTFISSION/WIKIPÉDIA/JAVIER HIRSCHFELD

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Posições do Relógio do Juízo Final nos últimos 75 anos

Dois anos após a sua criação, o Boletim decidiu mudar sua apresentação, deixando de ser um boletim impresso para adotar um formato de revista, a fim de atingir maior quantidade de leitores. Foi nesse ponto que seus responsáveis chamaram a artista Martyl Langsdorf para desenhar um símbolo para a nova capa - e ela produziu o primeiro Relógio do Juízo Final.

Casada com um dos cientistas do Projeto Manhattan, Langsdorf compreendia a urgência e o desespero que seu marido e os colegas sentiam sobre a gestão da tecnologia nuclear. Ela criou o Relógio para chamar a atenção para a urgência da ameaça que eles vislumbravam e também para sua crença de que os cidadãos responsáveis poderiam evitar a catástrofe com sua mobilização e envolvimento - pois a mensagem do Relógio foi que seus ponteiros poderiam mover-se tanto para frente como para trás.

Em 1949, a União Soviética testou suas primeiras armas nucleares. Por isso, o editor do Boletim moveu os ponteiros do Relógio de sete para três minutos para meia-noite. Ao fazê-lo, ele ativou o Relógio, que deixou de ser uma metáfora estática e passou a ser dinâmico. O Relógio evoluiria para um símbolo que, segundo Kennette Benedict, ex-diretora executiva do Boletim, é um aviso para "o público sobre como estamos perto de destruir o nosso mundo com tecnologias perigosas fabricadas por nós mesmos. É uma metáfora, um lembrete dos perigos que devemos abordar se quisermos sobreviver no planeta."

Em 1953, o Relógio moveu-se adiante mais uma vez, para dois minutos para a meia-noite, depois que os Estados Unidos e a União Soviética detonaram as primeiras armas termonucleares. Foi o mais próximo da meia-noite que o Relógio esteve no século 20.

Como ler o Relógio

Mas o que realmente indicam esses tempos e movimentos?

É fácil interpretar o Relógio do Juízo Final da forma que fez a minha professora - como uma previsão do tempo que resta para a humanidade, algo que seria muito difícil de se prever e é de pouco uso se a sua intenção for evitar o apocalipse em vez de simplesmente prevê-lo.

Uma leitura mais plausível é que o Relógio se destina a indicar o nível atual de risco enfrentado pela humanidade - e algumas pessoas, de fato, tentaram determinar isso. Em 2003, Martin Rees, o cosmólogo e astrônomo real do Reino Unido, argumentou: "acho que a probabilidade é de não mais de 50% que a nossa atual civilização na Terra sobreviva ao final do presente século".

Ele não é o único com essa opinião e um banco de dados dessas avaliações de risco, reunidas por um pesquisador da Universidade de Oxford, no Reino Unido, contém atualmente mais de 100 previsões de diversos cientistas e filósofos que estudam o assunto. Mas essas estimativas, por mais úteis que sejam, são consideradas avaliações de longo prazo e não fotografias em tempo real do nível de risco atual.

Já outros observadores dedicados do Relógio, como eu, interpretam os movimentos do Relógio do Juízo Final de forma um pouco diferente. Seu objetivo não é nos dizer o tamanho do risco enfrentado pela humanidade, mas a eficácia da nossa reação a esse risco.

É um consenso, por exemplo, que a crise dos mísseis de Cuba, em 1962, foi o mais perto que o mundo já chegou à guerra nuclear, mas esse episódio não fez movimentar o Relógio. Já o Tratado de Proibição Parcial de Testes Nucleares de 1963 testemunhou a mudança dos ponteiros do Relógio para trás em cinco minutos inteiros.

E isso faz sentido, pelo menos para os pesquisadores dos riscos existenciais, como eu próprio. Vários amigos me consultam para ter informações em momentos de aumento da tensão política global, como a crise diplomática de 2017 entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte ou o colapso do acordo nuclear com o Irã, em 2018.

Mas geralmente eu preciso desapontá-los. Nós simplesmente não passamos a maior parte do tempo estudando ou nos preocupando com eventos como esses. Na verdade, são flutuações perfeitamente normais da política e da diplomacia internacional.

O que preocupa pessoas como eu é, primeiramente, a existência de armas que os líderes poderiam detonar nessa crise e, em segundo lugar, as instituições e estruturas inadequadas e, às vezes, disfuncionais que temos para impedir que eles as detonem. Esses problemas não são criados por crises globais individuais - sua natureza é sistêmica e é isso que o Relógio do Juízo Final tenta medir.

Bomba explodindo

CRÉDITO,GETTY IMAGES

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Proliferação de armas nucleares durante a Guerra Fria fez relógio se aproximar da meia-noite


Os últimos movimentos do Relógio

Eu não tinha total conhecimento disso na época, mas comecei a me preocupar com o Relógio do Juízo Final em meados dos anos 1990 - coincidentemente, o momento de maior segurança da humanidade desde a Segunda Guerra Mundial. Entre 1987 e 1991, o Relógio andou para trás em surpreendentes 14 minutos em quatro anos, à medida que a redução das tensões da Guerra Fria fornecia proteção significativa contra a ameaça de guerra nuclear.

Os episódios mais notáveis foram o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, de 1987 - que proibiu todos os mísseis balísticos em território russo e norte-americano com alcance de 500 a 5.500 km e causou a retirada de serviço de 2.692 mísseis nucleares - e o Tratado de Redução de Armas Estratégicas (Start, na sigla em inglês), de 1991, que levaria à eliminação de cerca de 80% das armas nucleares.

Nesse momento, o Relógio do Juízo Final foi alterado para 17 minutos para meia-noite e até retirado da capa do Boletim de Cientistas Atômicos - em parte, porque já não parecia mais tão expressivo. Mas, infelizmente, esse estado de coisas não duraria muito.

A manutenção dos altos níveis de gastos militares e as preocupações crescentes com a proliferação nuclear no sul da Ásia e no Oriente Médio fizeram com que, no final da década de 1990, o Relógio voltasse para nove minutos para a meia-noite e continuasse e progredir inexoravelmente para frente. Mas a última década observou uma aceleração muito mais preocupante do movimento do Relógio do Juízo Final, até que, em 2020, ele atingiu 100 segundos para a meia-noite - ou seja, mais próximo do apocalipse que no tempo da Guerra Fria.

Como isso aconteceu? Um fator foi o surgimento de novos tipos de ameaças globais e o repetido fracasso dos governos do mundo para enfrentá-las.

As ameaças globais do século 21

Em 2007, o Boletim começou formalmente a analisar as mudanças climáticas, além das ameaças nucleares, para definir a posição dos ponteiros do Relógio.

É claro que esses riscos são muito diferentes. Os ataques nucleares poderiam acontecer em questão de minutos, enquanto o risco climático é cumulativo, ano após ano. Além disso, a responsabilidade pelas armas nucleares do mundo está nas mãos, ou dedos, de muito poucos tomadores de decisões globais, enquanto todos nós estamos envolvidos nas mudanças climáticas e na destruição ambiental - mesmo que em escalas muito diferentes.

Mas, sem dúvidas, a gravidade desses dois riscos - tanto em termos de seu potencial para causar catástrofes globais quanto da probabilidade de que isso aconteça - é comparável. E, para os dois riscos, precisamos examinar se o nível atual de ações globais sendo tomadas para combatê-los é ou não proporcional à sua gravidade e à crescente urgência de reduzi-los.

Pessoa fotografando uma árvore

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

As mudanças climáticas são agora uma ameaça importante e ajudam a explicar por que o Relógio está tão perto da meia-noite

Por muitos anos, as páginas do Boletim também analisaram os desafios apresentados por novas tecnologias problemáticas e esses desafios agora também influenciam os ponteiros do Relógio do Juízo Final.

Essas tecnologias incluem a inteligência artificial, armas biológicas e a nanotecnologia. Além das tecnologias específicas, o nosso futuro também é cada vez mais ameaçado pela convergência das tecnologias problemáticas com as ameaças nucleares e ambientais existentes.

Um segundo fator da posição do Relógio mais próxima da meia-noite é o fato de que, como o número e a variedade das ameaças enfrentadas pela humanidade se multiplicaram, a seriedade das dificuldades de gestão desses riscos também aumentou.

Em 2015, o Boletim moveu o Relógio do Juízo Final de cinco para três minutos para a meia-noite, indicando três questões fundamentais por trás dessa mudança. Primeiramente, a deterioração das relações entre os Estados Unidos e a Rússia, que juntos possuem 90% do arsenal nuclear do mundo, e o enfraquecimento de muitos dos instrumentos idealizados para manter esses arsenais em segurança, como o sucessor do tratado Start (Novo Start).

Em segundo lugar, todos os Estados que possuíam armas nucleares estavam investindo massivamente nesses sistemas, incluindo sua substituição, expansão e modernização. E, por fim, não havia nenhum sinal de formação da arquitetura global necessária para combater as ameaças climáticas.

Mas, em 2016, o Boletim identificou dois pontos brilhantes com potencial de reverter algumas dessas tendências negativas: o acordo nuclear com o Irã e o acordo do clima de Paris - mas com a ressalva de que nenhum deles havia sido totalmente implementado. E, em 2017, os editores do Boletim foram forçados a concluir que a situação havia piorado significativamente, já que esses dois pontos brilhantes haviam sido ofuscados pelas mudanças da política doméstica norte-americana.

Agregou-se a essa mudança o aumento das evidências de menosprezo global pelo conhecimento e negligência sobre a liderança e a linguagem nuclear. Por isso, o Boletim moveu o Relógio para dois minutos e meio para a meia-noite e, em 2018, moveu novamente, para dois minutos, devido à contínua deterioração da diplomacia internacional.

Duas pessoas ao lado do Relógio

CRÉDITO,THOMAS GAULKIN/BULLETIN OF THE ATOMIC SCIENTISTS

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O anúncio do Relógio do Juízo Final em 2021, quando permaneceu em 100 segundos para a meia-noite - posição que foi mantida em 2022

A posição do Relógio adotada desde 2020 - 100 segundos para a meia-noite - reflete a absoluta instabilidade da situação global e a falha das instituições internacionais em reagir ao tique-taque do risco existencial.

Essa situação inclui o colapso do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, que havia sido um dos primeiros sinais do fim da Guerra Fria. Pode não existir mais uma clara luta ideológica por trás dos conflitos internacionais, mas a escala de divergências entre as grandes potências e a falta de instituições que solucionem essas divergências parecem ser as piores que já existiram - e as formas em que essas divergências poderão vir a gerar uma catástrofe global continuam a multiplicar-se.

O que podemos esperar no futuro próximo?

A atual pandemia expôs as fraquezas dos governos atuais. A desigualdade da reação à covid-19 e a falta de liderança global para trabalhar para a vacinação universal e erradicação da doença não são um bom presságio para a prevenção das ameaças existenciais.

Igualmente frustrante foi a falta de progresso na cúpula do clima COP26. Mas estamos também observando o aumento da preocupação global com a aceleração da crise da biodiversidade e a contínua fragilidade dos esforços internacionais para lidar com a questão.

Suspeito que continuaremos a ver preocupações expressas sobre as tensões da política internacional, especialmente entre os Estados Unidos, Rússia, Irã e China, mas agora sabemos que elas já estão se alastrando para conflitos muito reais na zona cinza da cibersegurança, desinformação e desestabilização política.

Por fim, podemos também considerar o aumento das tensões entre os governos e as empresas envolvidas no desenvolvimento da inteligência artificial e outras tecnologias problemáticas, além do recente fracasso das tentativas de elaborar um acordo sobre a proibição das armas letais autônomas.

Poderia ter sido feito outro ajuste do Relógio do Juízo Final para mais perto da meia-noite este ano? Isso certamente não me surpreenderia. Mas não devemos nos acomodar, pois ele já está muito perto do apocalipse.

A crise da covid-19 poderia ter servido para impulsionar os governos a unir-se em prol da nossa segurança, como ocorreu com a crise dos mísseis em Cuba, 60 anos atrás, mas não foi o caso. É difícil ver como as coisas poderão melhorar significativamente sem que ainda outras crises e desastres finalmente nos incentivem a agir.

Mas o que aprendemos com o Relógio do Juízo Final é que a nossa capacidade atual de lidar com essas crises provavelmente é a pior da história. O Relógio ainda está se movendo e, se não pudermos fazer seus ponteiros voltarem, as badaladas da meia-noite podem não estar distantes.

*S. J. Beard é pesquisador do Centro de Estudos dos Riscos Existenciais da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Sua conta no Twitter é @CSERSJ.

Leia a íntegra desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Café ☕️ com Deus. Louvor e Adoração a Deus Salmos 145:1-8

Café ☕️ com Deus. Louvor e Adoração a Deus 

Foto: Canva


Imagens da NASA sobre a origem das estrelas apontam para Gênesis, diz cientista

O telescópio espacial James Webb possibilita cientistas observarem a criação de estrelas: “Consistente com o quarto dia do Gênesis”.

FONTE: GUIAME, COM INFORMAÇÕES DO ISRAEL365

A primeira imagem divulgada pelo telescópio espacial Webb mostra em detalhes uma seção do universo distante. (Foto: NASA, ESA, CSA, STScI, Webb)

As descobertas feitas pelo telescópio espacial James Webb têm possibilitado comparações científicas com revelações das Escrituras sobre a Criação. O maior telescópio óptico no espaço foi lançado há 13 meses e começou a enviar imagens de volta à Terra em julho.

Recentemente, o equipamento voltou suas lentes para NGC 346, um aglomerado de estrelas localizado na Pequena Nuvem de Magalhães (SMC), a mais de 200.000 anos-luz da Terra.

Embora visível a olho nu, a SMC é estimada em 3-5 bilhões de anos e é considerado uma galáxia anã “primitiva” que se assemelha às condições do universo primitivo com concentrações relativamente baixas de elementos mais pesados ​​que o hidrogênio e o hélio.

Os cientistas acreditam que este é o tipo de galáxia que é o bloco de construção para galáxias maiores e é mais fácil de estudar.

Informações dizem que a NGC 346 contém cerca de 2.500 estrelas infantis e os pesquisadores esperam que sua observação possa ajudá-los a entender como as primeiras estrelas se formaram durante o “meio-dia cósmico”, apenas 2 ou 3 bilhões de anos após o big bang, quando a formação estelar estava no auge.

“Uma galáxia durante o meio-dia cósmico não teria um NGC 346 como a Pequena Nuvem de Magalhães; teria milhares” de regiões de formação de estrelas como esta, disse Margaret Meixner, astrônoma da Associação Universitária de Pesquisa Espacial e investigadora principal da equipe de pesquisa. “Mas mesmo que o NGC 346 seja agora o único aglomerado massivo formando estrelas furiosamente em sua galáxia, ele nos oferece uma grande oportunidade de sondar as condições que existiam no meio-dia cósmico.”

Estrelas em formação

Os cientistas foram capazes de observar pela primeira vez estrelas infantis em processo de formação a partir de nuvens de gás em colapso gravitacional. Para observar NGC 346, eles usaram a câmera de infravermelho próximo do telescópio Webb.

As estrelas infantis ainda não haviam acendido seu combustível de hidrogênio para sustentar a fusão nuclear.

“Estamos vendo os blocos de construção, não apenas de estrelas, mas também potencialmente de planetas”, disse Guido De Marchi, da Agência Espacial Europeia, coinvestigador da equipe de pesquisa.

“E como a Pequena Nuvem de Magalhães tem um ambiente semelhante ao das galáxias durante o meio-dia cósmico, é possível que planetas rochosos possam ter se formado mais cedo no universo do que pensávamos”, disse.

“Pela primeira vez”, destacou a Dra. Olivia Jones do Centro de Tecnologia de Astronomia do Reino Unido (UK ATC) em Edimburgo, “podemos ver a sequência completa da formação de estrelas em outra galáxia”.

“Anteriormente, com o Spitzer, que era um dos grandes observatórios da agência espacial americana NASA, podíamos detectar as protoestrelas mais massivas, cerca de cinco a oito vezes a massa do nosso Sol”, disse.

“Mas com o Webb, temos os limites de sensibilidade para ir até 1/10 da massa do Sol. Assim, temos sensibilidade para detectar as estrelas de baixíssima massa em processo de formação, mas com resolução também para ver como elas afetam o ambiente. E como você pode ver na imagem, é um ambiente muito dinâmico.”

Ciência e Bíblia

Os entusiastas da Bíblia podem ser tentados a dizer à NASA que a chave para a criação de estrelas e planetas pode ser encontrada em uma leitura atenta do primeiro capítulo da Bíblia.

Com mais de trinta anos de experiência em pesquisa e ensino, Dr. Gerald Schroeder é um cientista e palestrante na Aish Hatorah Yeshiva em Jerusalém. Ele obteve seu bacharelado, mestrado e doutorado, todos no Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

O Dr. Schroeder reagiu à nova descoberta dizendo que era “totalmente consistente com a história da Criação”.

“Perguntaram-me como Deus criou a luz no primeiro dia, mas as estrelas e os corpos celestes não foram criados até o quarto dia”, disse o Dr. Schroeder ao Israel365 News.

“Isso é consistente com o que os físicos estão aprendendo agora; que o universo era opaco no início e depois começou a irradiar. As estrelas ainda não haviam se formado, mas havia energia”, explicou.

Dr. Schroeder também explicou isso em termos bíblicos:

“O Gênesis descreve que no primeiro dia da criação, houve radiação de energia que é essencialmente luz”, disse o Dr. Schroeder. "A Torá diz que havia ou, luz simples, ou o que os físicos chamam de radiação de energia."

"No quarto dia, Gênesis descreve m'orot, os corpos celestes que emitem luz", disse o Dr. Schroeder. “Ao observar a criação das estrelas, os astrofísicos estão estudando a transição do primeiro dia da criação para o quarto dia da criação, ou o que os físicos chamam de meio-dia cósmico.”

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

ONU pede que Paquistão acabe com casamentos forçados de meninas cristãs

Em carta, um grupo de Relatores Especiais da ONU acusa a polícia e os tribunais paquistaneses de agirem como cúmplices do crime.

FONTE: GUIAME, COM INFORMAÇÕES DE BITTER WINTER

O Tribunal Superior ignorou as evidências do casamento forçado da menina Nayab e a manteve sob custódia de seu raptor. (Foto: Morning Star News).

A ONU pediu que o Paquistão acabe com conversões e casamentos forçados de meninas de minorias religiosas, incluindo cristãs, em uma carta que se tornou pública recentemente.

De acordo com a Bitter Winter, o documento de 16 páginas, enviado ao governo paquistanês em outubro de 2022, é assinado por um grupo de Relatores Especiais das Nações Unidas, incluindo o Relator Especial sobre liberdade de religião ou crença e o Relator Especial sobre a venda e exploração sexual de crianças.

O documento cita diversos casos de meninas hindus e cristãs, com idades entre 13 e 20 anos, que foram sequestradas, estupradas, convertidas à força ao islã ou ao hinduísmo e casadas com seus sequestradores.

As vítimas incluem Mehwish Patras, Chashman Kanwal, Zarvia Pervaiz e Saba Nadeem (outros nomes foram apagados na carta por motivos de segurança).

Segundo a legislação atual do Paquistão, meninas menores de idade não podem se casar. Porém, líderes muçulmanos e os raptores ameaçam e obrigam as vítimas a mentir sobre sua idade no tribunal e a afirmar que se converteram e se casaram por vontade própria.

Autoridades são cúmplices nos crimes

Os relatores da ONU acusaram a polícia e os tribunais de agirem como cúmplices nos crimes dos sequestradores.

Segundo o documento, as autoridades aceitam as declarações das meninas, feitas sob coerção, e documentos falsos, para “comprovar” a maioridade das vítimas e consentir com os “casamentos”.

Os tribunais ainda pedem a médicos conhecidos para atestar “idades biológicas” falsas para tornar as menores aptas ao matrimônio.

A ONU ainda criticou o Parlamento e os políticos paquistaneses por não garantirem em lei a proteção de mulheres e meninas de minorias religiosas contra a conversão e o casamento forçado.

Conforme a carta, os crimes contra meninas cristãs e hindus é um problema sistêmico no Paquistão.

“Enquanto aguardamos uma resposta, pedimos que sejam tomadas todas as medidas provisórias necessárias para deter as supostas violações”, exigiram os relatores.

Meninas cristãs violadas

O sequestro e o casamento forçado de meninas cristãs têm se tornado comuns no Paquistão. De acordo com a Portas Abertas, o Paquistão é o país com mais casos de casamentos forçados, com cerca de mil cristãos vítimas nos últimos dois anos.

As garotas cristãs raptadas por muçulmanos sofrem ameaças de que elas ou suas famílias serão mortas caso não declarem no tribunal que se converteram ao islã e se casaram por vontade própria.

No país, relações sexuais com meninas com menos de 16 anos é considerado legalmente como estupro, porém, na maioria dos casos uma certidão de conversão falsificada e uma certidão de casamento islâmica influenciam a polícia a não imputar punição aos sequestradores.

O Paquistão ocupa a 7° posição na Lista Mundial da Perseguição 2023 da Missão Portas Abertas.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Perto da morte, paciente realiza seu último desejo: ser batizado

Tommy frequentava a igreja, mas nunca havia aceitado Jesus como Salvador.


FONTE: GUIAME, COM INFORMAÇÕES DE GOD REPORTS

Tommy Dale Reid, sendo batizado nas águas. (Foto: Captura de tela/Facebook Hospice of Wichita Falls)

Perto da morte, Tommy Dale Reid, com 67 anos, disse que seu último desejo nesta Terra era ser batizado nas águas. Seu testemunho inspirou e abençoou a todos os que estiveram presentes no evento.

Alguns meses antes de adoecer, Tommy se aposentou. No início, ele pensou que estava com pneumonia mas, infelizmente, seu problema de saúde era mais sério, e ele foi diagnosticado com câncer de pulmão, fígado e pâncreas.

Assim que recebeu a notícia dos médicos, ele soube que somente um milagre poderia salvar sua vida. Tommy, porém, se deu conta de que nem mesmo era cristão.

‘Frequentou a igreja, mas não tomou decisão’

Mesmo indo à igreja regularmente, Tommy disse que não havia aceitado Jesus como seu Senhor e Salvador. E também observou que não havia sido batizado.

Tom Box, o pastor de Tommy, disse: “Ele simplesmente nunca foi batizado. Ele nunca havia aceitado a Cristo como seu salvador pessoal”.

Tommy era um marido fiel e um bom trabalhador. Ele cresceu em Wichita Falls e formou-se em Ciência da Computação no Vernon Regional College e também serviu no Exército por muitos anos.

Na época em que estava no quartel, na Alemanha, ele conheceu Marion Rohleder, sua esposa, e logo ficaram noivos. Depois do casamento, eles se mudaram para Burkburnett, uma cidade no Texas, onde permaneceu até sua morte. 

Um alerta e uma oportunidade

Depois de receber o diagnóstico de câncer já avançado, Tommy reconheceu que foi um alerta e uma oportunidade de se aproximar de Deus.

Assim que foi internado, ele expressou rapidamente seu desejo de ser batizado. “Fizemos o batismo por imersão, pois acreditamos que assim nos dedicamos por inteiro. Não apenas a cabeça ou as mãos, mas tudo a Jesus Cristo”, explicou o pastor sobre o simbolismo do batismo nas águas.

Por se tratar de um desejo que deveria ser realizado com urgência, devido à saúde debilitada de Tommy, a própria equipe médica preparou o local do batismo no jardim do hospital.

‘Agora está com Deus, na eternidade’

Angela Culley, a diretora de comunicação do hospital, disse que há uma grande conexão emocional entre a equipe médica, os enfermeiros e os voluntários com os pacientes. “Considero esse ambiente muito especial”, disse Angela sobre o hospital.

Tommy precisou prender a respiração por alguns instantes, enquanto seu tubo de oxigênio foi retirado. Mas ele “desceu às águas” com entusiasmo, pois realmente queria ser batizado.

Conforme a família, Tommy aceitou Jesus como seu salvador pessoal, foi batizado tendo seu último desejo realizado e agora está com Deus no céu e vivendo o melhor momento de sua vida eterna, conforme publicou o God Reports.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Governo retira o Brasil de aliança internacional contra o aborto

Segundo nota oficial, uma das justificativas é a “garantia efetiva e abrangente da saúde da mulher”.


FONTE: GUIAME, COM INFORMAÇÕES DO GLOBO E VEJA

Bebê nascido prematuro. (Foto: Rawpixel/CCO)

O Brasil acaba de deixar o Consenso de Genebra sobre Saúde da Mulher e Fortalecimento da Família, aliança antiaborto, da qual fazia parte desde 2020, quando o acordo foi assinado pela então ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos Damares Alves.

O anúncio da saída foi feito nesta terça-feira (17), em um comunicado conjunto dos ministérios das Relações Exteriores, da Saúde, das Mulheres, dos Direitos Humanos e da Cidadania.

A nota afirma que o Consenso de Genebra "contém entendimento limitativo dos direitos sexuais e reprodutivos e do conceito de família".

Ainda segundo a nota oficial, a visão "pode comprometer a plena implementação da legislação nacional sobre a matéria, incluídos os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS)":

"O governo reitera o firme compromisso de promover a garantia efetiva e abrangente da saúde da mulher, em linha com o que dispõem a legislação nacional e as políticas sanitárias em vigor sobre essa temática, bem como o pleno respeito às diferentes configurações familiares."

Simultaneamente, o governo ingressou em outras políticas, aderindo a duas iniciativas multilaterais para promover maior igualdade de gênero na América Latina.

Consenso de Genebra

Criado em 2020 por Donald Trump, enquanto presidente dos EUA, o Consenso de Genebra tinha como objetivo tentar bloquear votações em fóruns internacionais sobre educação sexual e direitos reprodutivos, alegando que abrem caminho para a legalização do aborto.

Os quatro pilares do grupo são "preocupação com a saúde da mulher, proteção da vida humana, fortalecimento da família e defesa da soberania das nações na criação de políticas próprias de proteção à vida".

Além dos EUA, o acordo chegou a ter originalmente 34 países signatários. Hoje, com a mudança de ideologia política, alguns se retiraram da aliança, como o próprio EUA, tendo a frente Joe Biden, e a Colômbia, após o socialista Gustavo Petrus assumir o comando do país.

Principal causa de morte

O aborto foi a principal causa de mortes no mundo em 2022, pelo quarto ano consecutivo, de acordo o banco de dados em tempo real de saúde e população global, Worldometer. No total, 44 milhões de bebês foram mortos no ano passado.

A segunda principal causa de morte em 2022 foi doenças transmissíveis, que causaram quase 13 milhões de mortes. Em seguida, o câncer (8 milhões), tabagismo (5 milhões) e mortes relacionadas ao álcool (2,5 milhões).

Ativista contra o aborto, a cristã Obianuju Ekeocha disse que “bebês em gestação [estão sendo] massacrados no útero em todo o mundo em 2022 sob o pretexto de ‘escolha’/direitos das mulheres/saúde, tornando o aborto a principal causa de morte em nosso mundo”.

Luta contra o aborto

Como signatário do Consenso de Genebra, o Brasil chegou a liderar países em aliança internacional antiaborto, tornando-se protagonista na luta global contra o aborto.

Em entrevista ao Guiame, a psicóloga e colunista do portal, Marisa Lobo, disse que “legal ou ilegal o aborto causa traumas”.

“A dor física pode ser curada, esquecida, mas o trauma se dá pelo pela dificuldade de se esquecer uma vida foi gerada a abortada, ou seja, não se permitiu que um ser humano nascesse de fato. Seja qual for o motivo, devemos ter sempre a opção à vida. Não como obrigação, mas como direito”.

Na época da assinatura do acordo, Damares Alves declarou:

“Estamos lutando contra o aborto”, afirmando sobe a preocupação “com a vida humana em todos os seus estágios, em todas as instâncias”.

“Ser uma das líderes na defesa da vida intrauterina no mundo é uma honra. Esta é a missão da minha vida e faz muito tempo”, disse também enquanto estava à frente do ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos.

Até o momento, o aborto no Brasil só pode ser realizado em três situações: quando há risco de morte para a mulher, causado pela gravidez; a gravidez é resultante de um estupro; ou se o feto é anencefálico.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Martin Luther King: o pastor batista que lutou contra a segregação racial nos EUA

Nascido em uma família de pregadores batistas, Luther King baseou sua luta pelos direitos civis na crença de um Deus que não discrimina.


FONTE: GUIAME, COM INFORMAÇÕES DE BRITANNICA E VOX


Martin Luther King Jr. durante a Marcha sobre Washington, em 1963. (Foto: Domínio Público/Creative Commons)

Nesta segunda-feira (16), em feriado nacional, os americanos relembram o legado do pastor batista que lutou com a segregação racial nos Estados Unidos. O discurso “Eu tenho um sonho” de Martin Luther King ainda ressoa na história da luta por direitos civis em todo o mundo.

Em 28 de agosto de 1963, mais de 200 mil pessoas negras e brancas se reuniram em frente ao Lincoln Memorial, em Washington, para pedir igualdade para todos os cidadãos em um EUA segregado pelo racismo.

Martin Luther King Junior nasceu em 4 de abril de 1968, em Memphis, no Tennessee, em uma família de pregadores batistas. Seus pais tinham formação universitária e o pai de King era pastor da prestigiada Igreja Batista Ebenezer, em Atlanta.

De família de classe média, Martin Luther cresceu na Auburn Avenue, conhecida como “Black Wall Street”, região das maiores empresas e igrejas negras.

Mesmo recebendo uma boa educação e o amor de sua família, King experimentou a discriminação ainda na infância, no Sul americano segregado.

Por volta dos 6 anos, Martin ouviu um seus colegas brancos afirmar que seus pais não permitiam mais que ele brincasse com King, porque agora as crianças brancas e negras frequentavam escolas separadas.

Em 1944, aos 15 anos, Martin ingressou na prestigiada Morehouse College, como um aluno promissor. Antes de iniciar a faculdade, o jovem passou as férias de verão em uma fazenda de tabaco em Connecticut, onde conheceu uma realidade bem diferente do Sul segregado.

Ele ficou impressionado como negros e brancos conviviam pacificamente no Norte dos EUA. “Negros e brancos vão [para] a mesma igreja. Nunca [pensei] que uma pessoa da minha raça pudesse comer em qualquer lugar”, escreveu eles em uma carta aos pais.

Essa experiência no Norte aumentou a indignação de Martin Luther King com a segregação racial nos estados sulistas.

Seguindo o ministério

Martin Luther King sendo preso em Montgomery, Alabama, em 1958. (Foto: Domínio Público/Creative Commons)

O jovem cristão estudou Medicina e Direito, mas em seu último ano na universidade, decidiu seguir o ministério e ingressou no Seminário Teológico Crozer em Chester, na Pensilvânia.

Na universidade e no seminário, Martin teve contato com ativistas cristãos e teólogos protestantes contemporâneos, que o estimularam a agir contra a injustiça racial.

Logo depois, ele fez doutorado na Universidade de Boston, onde estudou o relacionamento do homem com Deus e formou uma base sólida para sua teologia e ética cristã contra o racismo.

Mais tarde, já casado com Coretta Scott e pastor da Igreja Batista da Avenida Dexter em Montgomery, Luther King usou sua crença em que todos os homens eram iguais perante Deus para fundar a Conferência de Liderança Cristã do Sul (SCLC).

Herança teológica na luta pelos direitos civis

Através da organização, o pastor batista iniciou o movimento pela justiça racial, dando palestras por todo o país e discutindo questões raciais com líderes cristãos.

Inspirado na filosofia da resistência não violenta de Gandhi, Martin apoiou e promoveu protestos contra o racismo, chegando a ser preso diversas vezes.

Em Montgomery, o pastor liderou o movimento que lutou contra a segregação racial no sistema de transporte público da cidade, após Rosa Parks, uma mulher afro-americana, se recusar a ceder seu assento no ônibus a um passageiro branco, iniciando uma onda de protestos.

Com uma ótima retórica e personalidade inspiradora, Martin Luther King se levantou como um líder do movimento pelos direitos civis nos EUA.

“Não temos alternativa a não ser protestar. Por muitos anos, mostramos uma paciência incrível. Às vezes, demos a nossos irmãos brancos a sensação de que gostamos da maneira como fomos tratados. Mas viemos aqui esta noite para sermos salvos dessa paciência que nos torna pacientes com qualquer coisa menos que liberdade e justiça”, declarou o ativista em um de seus primeiros discursos como líder.

Após lutar durante as décadas de 1950 e 1960, a liderança de King provocou uma onda de manifestações com efeito na opinião pública. Como resultado, em 1964 a Lei dos Direitos Civis foi aprovada, proibindo a segregação e a discriminação em espaços públicos e no ambiente de trabalho.

Naquele mesmo ano, Martin ganhou o Prêmio Nobel da Paz, em Oslo. “Aceito este prêmio hoje com uma fé inabalável na América e uma fé audaciosa no futuro da humanidade”, discursou ele na ocasião.

Martin Luther King e sua esposa na ONU. (Foto: Flickr/United Nations Photo).

O último sermão

Enfrentando ameaças de morte devido ao seu ativismo, o líder revelou que Deus renovava suas forças para continuar seu propósito. “Estou francamente cansado de marchar. Estou cansado de ir para a cadeia”, confessou Luther, em 1968.

E continuou: “Vivendo todos os dias sob a ameaça de morte, sinto-me desanimado de vez em quando e sinto que meu trabalho é em vão, mas então o Espírito Santo revive minha alma novamente”.

O pastor parece ter previsto sua morte precoce em sua última pregação. Na noite anterior ao seu assassinato, Luther King pregou o sermão “Eu estive no topo da montanha", no Mason Temple, a sede da Igreja de Deus em Cristo, em Memphis.

“Como qualquer pessoa, eu gostaria de viver uma vida longa. A longevidade tem seu lugar. Mas não estou preocupado com isso agora. Eu só quero fazer a vontade de Deus”, afirmou ele.

“E Ele me permitiu subir a montanha. E eu examinei. E eu vi a terra prometida. Posso não chegar lá com você. Mas eu quero que você saiba esta noite, que nós, como povo, chegaremos à terra prometida. Estou feliz, esta noite. Não estou preocupado com nada. Não estou com medo de nenhum homem. Meus olhos viram a glória da vinda do Senhor”.

No dia 4 de abril de 1968, Martin Luther King foi assassinado com um tiro, enquanto estava na sacada do hotel onde se hospedava, em Memphis.

Mesmo depois de sua morte, os ideais democráticos e cristãos do pastor batista continuaram transformando a sociedade americana e ainda hoje tem inspirado pessoas e movimentos de justiça social.